"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

4.10.15

Costa2015 ao Fundo

Foi a moda nos slogans das últimas autárquicas: SerafimSaudade2013

Um estilo narcisista, coerente com o perfil de governança local em Portugal: “Eu é que sou o Presidente!”
Portugal à Frente ganhou as Eleições Legislativas, por mérito do principal adversário.

António Costa arranca em grande desvantagem para estas eleições. A saber:
- As responsabilidades do seu partido na última bancarrota portuguesa. Recorde-se que em 1995, o PSD deixou o governo com um endividamento externo líquido inferior a 20% do PIB Nacional
- A forma como chega a Secretário Geral do PS
- A sua incapacidade para terminar os mandatos para os quais é empossado
- A ausência de equipa governamental

Quatro Calcanhares de Aquilles que António Costa tinha que dissolver durante a campanha eleitoral. Quatro a zero foi o resultado.

A actividade politica não é uma profissão. Tal como ser amante ou progenitor.
Todo o Homem tem competências políticas.
Naturalmente, que pode ter essas competências mais estimuladas que a maioria dos restantes. Tal como um progenitor de uma familia numerosa estará mais habilitado para gerir conflitos familiares.

Mas é preciso mais para representar um povo.

Ninguém sabe o que andou António Costa a fazer fora da política. Foi voluntário em acções de alfabetização de emigrantes? Foi carpinteiro ou gestor de empresas? É praticante de rafting?
O que faz este homem, para além de palestrar sobre a sua visão para Portugal?

Falta a muitos portugueses uma cultura política, consequência da Ditadura.
Mas a falta de respeito, os portugueses sabem identificar.
António Costa não explicou porque interrompeu o mandato de António José Seguro como Secretário Geral do Partido Socialista. E ainda mais, porque o fez no único momento em que as Sondagens apontaram uma vantagem do seu partido sobre a oposição.
Ganância é a única resposta possível, mas que tinha de ser contrariada.

Qual é o Governo que o Partido Socialista propôe para Portugal?
Quem foi o porta-voz das áreas estratégicas como a Educação, Saúde, Segurança Social e a Economia?
Costa2015 responde. Temos um líder chamado António Costa. Um homem a quem não se conhece uma profissão, mas capaz de falar sobre tudo isto.
Cai a ficha, quando tenta dizer que vai financiar o défice da Segurança Social com as pensões de sobrevivência.

Para além disso, revela uma enorme incapacidade de aprendizagem.
O Bloco de Esquerda foi encostado às cordas nas últimas Legislativas por se ter recusado a reunir com os financiadores externos.
António Costa caiu na única armadilha que foi montada pela oposição: “Independentemente dos resultados, a 5 de Outubro o PS estará disposto a sentar-se com a Coligação para discutir a sustentabilidade da Segurança Social?”

A resposta foi clara. A avaliação dos portugueses também.

12.8.15

Férias na Campagne

Uma parte significativa das moradias na nossa região pertencem a famílias emigradas.
Chegam por estes dias às vilas e aldeias, cantam e dançam melodias que o território já esqueceu.
Tal como aqueles que partem para o litoral, idealizam um campo parado no tempo e as cidades no auge da modernidade.

Não sei se é um problema de Educação ou da sua ausência.
As cidades lutam pela melhoria da qualidade dos seus recursos, tão básicos como o ar que se respira.
Promovem as hortas de varanda, orientadas para as avenidas do carbono.
Procuram a descida dos custos de vida e a eficiência nos transportes.
Em termos práticos, as cidades ambicionam ser campo.

E isto acontece porque o modelo de cidade que conhecemos ultrapassou a barreira da sua sustentabilidade.
Na Europa, o campo é para quem pode.

O atraso destes territórios reside nas suas políticas.
Depois da desindustrialização, retomamos o mesmo caminho sem nada aprender.
Negócios baseados em salários mínimos estarão condenados no tempo. E enquanto o pau vai e vem, somos ultrapassados por aqueles que instalam os negócios certos nos locais com essa vocação.
Mas isso obrigaria os eleitos a conhecer a vocação dos seus territórios, e a ler as milhares de páginas dos estudos contratados e pagos para as estratégias territoriais.
É pedir muito.
Mas esta é a discussão que é compreendida por poucos. Por isso, cantemos.

2.7.15

Vida em Transição

A revolução industrial iniciou a dependência global do petróleo.
As fábricas exigem elevadas potencias de energia, e por isso, os produtores de petróleo e dos seus derivados assumiram o controlo do mundo.

No meio das encostas serranas, nascem os grupos de “transição”, que pretendem demonstrar a capacidade do Homem em viver desconectado desta dependência.
São famílias com produção própria de energia a partir de paineis solares, com água canalizada a partir de nascentes de cotas superiores às habitações e com sistemas de compostagem baseados em residuos orgânicos ou serradura, garantindo a prazo a produção de adubo para as hortas familiares.
A este estilo de vida, estas comunidades adicionam diversas práticas meditativas, capazes de recentrar as suas consciências na essência da vida humana.
A análise cuidada deste fenómeno, desperta-nos para questões simples mas inéditas: os componentes dos detergentes, champôs e pastas de dentes que usamos em nossas casas são amigos do ambiente?
Em caso negativo, o que poderemos prever para a qualidade de vida dos nossos filhos e netos?
Acredito que este processo não é indutor de regressos ao passado, mas antes, sementes de um novo futuro.

Aos interessados na temática, recomendo a leitura do blog do almadeidense Luís Queirós em http://poscarbono.blogspot.com e nos relatos deste novo estilo de vida em http://vidaemtransicao.pt/blog/

5.3.15

O baile do engate

No passado dia 27 de Fevereiro, a Assembleia Municipal da Guarda foi palco de controvérsia.
Fernando Carvalho Rodrigues, reconhecida personalidade portuguesa e Presidente daquela assembleia, exigiu “factos” nas respostas de Álvaro Amaro aos assuntos em debate.

Conheço Carvalho Rodrigues e a sua entrega à causa pública. A sua relação com a vida partidária é desinteressada, o que o transforma num perigoso actor desse sistema.
E este facto, que pode parecer menor, releva uma nova atitude na politica portuguesa.
Quem não percebeu, continua a julgar-se bravo fazendeiro e a recolher o vexame público pelo triste comportamento.

Também na passada semana, realizou-se a Assembleia de Pais do Agrupamento de Escolas de Trancoso. E também aqui, o expediente visava perpetuar dinastias, e com a autoridade de Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Júlio Sarmento convocou uma assembleia no limite legal para o fazer, e com isso, reduziu a zero minutos o prazo para apresentação de listas concorrentes para a nova direcção.

Obviamente que estes incidentes seriam caricatos se não fossem a imagem de um tempo que já passou.

O modo, a embalagem e o conteúdo deste tipo de politica são a vergonha de Portugal.
Quem ambiciona o “Sentido de Estado” não pode fazer a política da casa da lâmpada encarnada.

24.1.15

Região da Guarda alcança 3 Certificações ES+

O Mapa de Inovação e Empreendedorismo Social, coordenado pelo Gestor do Programa Governamental "Portugal Inovação Social" certificou três entidades na Região da Guarda.

A saber:
- ASTA - Associação Sócio Terapêutica de Almeida, concelho de Almeida
- ATN - Associação Transumância Natureza, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo
- Programa Novos Povoadores, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo

Os restantes concelhos da região da Guarda não tiveram qualquer certificação nas suas iniciativas sociais.

A nível nacional, estão certificadas nesta fase 134 iniciativas, das 4205 analisadas.

18.12.14

Feira do Gado em Trancoso

Realizou-se no passado sábado a II Feira/Mostra do Gado em Trancoso.

A actividade agricola tem perdido importância na economia portuguesa, e os subsídios aos jovens agricultores não são indutores de convicções para a maioria da população rural.

Um dia chuvoso e escuro não fazia prever a enchente que se encontrou no Mercado do Gado de Trancoso, onde o estacionamento em segunda fila foi a opção para os menos pontuais.

Na Mostra de Gado apresentaram-se animais de 40 explorações pecuárias.

Na sala de conferência, o frio não demoveu os criadores e visitantes para discutirem as oportunidades para a melhoria da qualidade das explorações e para o licenciamento de pequenas unidades industriais.

O clima aqueceu, quando se discutiu o valor do leite, cuja qualidade proteíca é desvalorizada no momento da venda desse produto.
As acesas discussões que se seguiram, já no exterior do edifício, demonstram que existe vontade de investimento dos produtores para a melhoria e monitorização da qualidade do leite, com vantagens directas para a indústria que opera em produtos de maior valor.

Portugal não tem condições para competir em quantidade. Mas se a qualidade for a prioridade, os nossos produtos endógenos atingirão segmentos de mercado que estão disponíveis para recompensar melhor os nossos produtores.

9.5.14

Sexo na Beira

A Guarda marcou presença na agenda ibérica de Turismo.
A FIT, evento do passado fim de semana naquela cidade, foi uma clara demonstração de vitalidade e união da região para promover o turismo de interior.

O espaço revelou-se pequeno para a quantidade de expositores que pretenderam marcar presença.
O sector do turismo, tantas vezes usado como solução para todos os males do interior, não deve ser responsabilizado pelo insucesso do Desenvolvimento Rural.
Tem contribuído com 15 a 20% do PIB destes territórios, um valor elevado quando comparado com a maioria das regiões rurais da Europa.

A centralidade entre Lisboa e Madrid, a proximidade da fronteira e a dinâmica da própria cidade, são condições necessárias para alcançar o desejado posicionamento.

Acredito que o reforço dos produtos regionais, como o Vinho, o Azeite, a Amêndoa, a Castanha e o Mel, para além da produção animal, são factores críticos para a afirmação desta centralidade.

Depois das aventuras e desventuras com a constituição do corpo directivo da Comunidade Intermunicipal, a união dos agentes políticos da região será fundamental para estagnar o atraso sobre as outras regiões rurais do nosso país.
Não é exigível que seja uma relação de amor. Basta que seja uma união de facto.

6.5.14

Inteligência tributária

A Trottleman é uma marca conhecida de roupa, que poucos sabiam que era portuguesa.

Utilizo o verbo no passado, porque a empresa entrou em insolvência. Apenas e só, porque o Ministério das Finanças não concordou com o acordo de recuperação aprovado pelos credores, e contestou para Tribunal.

Não foi necessária a sentença. A morosidade da Justiça acabou com o que restava de esperança (e Justiça!) para a sua recuperação.

Vem este texto a propósito da necessária informatização dos sistemas da Administração Tributária.

As regras têm de ser iguais para todos, e quando a “mão humana” intervém nestes casos serve somente para introduzir arbitrariedade aos procedimentos.

Aliás, creio que a transferência de competências da Autoridade Tributária para a Administração Local em conjugação com a informatização total do sistema fiscal, poderão disponibilizar em conjunto os efetivos necessários à fiscalização das atividades económicas, combatendo a evasão e a fraude fiscal, prato principal da economia portuguesa.

À mulher de César não basta ser séria. É preciso parecê-lo.

11.11.13

Beira Sensual

Conheci na Beira Interior alguns produtos alimentares que fazem as delícias das papilas gustativas.
A nossa castanha, o azeite e os queijos serranos são um cartão de visita da nossa região.

Quando comparo a apresentação destes produtos com os seus concorrentes internacionais, verifico que não cuidamos da nossa imagem. São muito bons, mas não transmitem sedução ao cliente. E isso conduz-me a uma reflexão maior: valorizamos na nossa identidade as diversas batalhas que por aqui passaram em detrimento das bonitas histórias de amor que aqui se viveram.

Estamos no Outono e o nosso chão carrega-se das cores mais bonitas da natureza, usadas em todo o mundo na decoração de interiores. E nós não vendemos esse património. Limitamo-nos a valorizar “outras coisas”, como o património construído que polvilha a nossa região, paredes meias com prédios e marquises descaraterizantes.

Um casal enamorado da cidade terá dificuldade em lembrar-se das Casas do Côro ou das Casas da Lapa, para viver dias de amor.
Mas as regiões serranas de Itália, da Suíça ou mesmo da Irlanda, transmitirão a imagem sedutora que o enamorado casal pretende vivenciar por estes dias.

Acredito que este fenómeno esteja associado ao passado desta região, onde o frio inundava as casas, e assumia-se como inimigo dos beirões.

E isso marcou-nos na capacidade de sonhar e seduzir.

Vivemos tempos loucos. Sabemos agora que o futuro será o que fizermos dele. E se tivermos a utopia de imaginar uma Beira Sensual, correremos o risco de deixarmos aos nossos filhos uma região que todos querem visitar.

in O Interior

3.10.13

Reino Unido em estado de choque com os resultados eleitorais no Distrito da Guarda


Passavam poucos minutos das 21:00 horas da noite eleitoral, e já estavam os empresários ingleses a contactar as empresas do distrito, para compreenderem as consequências destes resultados eleitorais no mercado europeu das conservas de fruta.

O Reino Unido, principal player europeu deste sector, encontrou nas propostas políticas da região, que foram sufragadas no passado Domingo, estratégias de actuação em rede no sector da transformação alimentar, para o mercado internacional.

É facil compreender que as Compotas da Ti’Alzira não façam qualquer sombra à potente indústria inglesa. Mas o mesmo não se poderá dizer de uma acção concertada para o mercado externo entre as 200 unidades empresariais do Distrito.

Se o leitor teve a paciência (ou a boa disposição) para ler este texto até aqui, por certo compreendeu a animação que me assiste.

As politicas de um território devem ser definidas pelos eleitos, porque beneficiam de legitimidade democrática, em acordo com os empresários e os centros de saber desse território. Isto é, só faz sentido que as politicas aplicadas a um território sejam uma resposta eficaz ao crescimento sustentável das suas empresas, porque serão estas que terão a capacidade de gerar novos postos de trabalho em resultado do seu sucesso.

Na minha perspectiva, é esta REDE que falta às nossas empresas, para poderem ser vencedoras no competitivo mercado externo.

E é por falta dessas políticas, que os empresários ingleses do sector da transformação alimentar, não perderam um segundo da sua telenovela para observar as eleições autárquicas em Portugal.

A nossa desorganização será a sua apólice de seguro para o seu sossego económico.