"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

31.5.11

Ligados à máquina

Na TSF, ouvi na quinta-feira o padre Jardim Moreira, do Observatório Europeu Anti-Pobreza, dizer que "os pobres não precisam de esmola, precisam de justiça" e pus-me a pensar que as crises são de facto terreno fértil da pobreza, mas ela não nasce do nada. Para que a pobreza seja o flagelo que é hoje em Portugal o principal factor não é a falta de dinheiro, é a falta de justiça.

E não, não são os políticos os únicos responsáveis pela construção da sociedade injusta em que vivemos. E a não existência de igualdade de oportunidades para todos os portugueses não é apenas uma questão de egoísmo da parte que nasce em berço de ouro. Vivemos numa sociedade de consumo em que a famosa classe média vive para trabalhar e trabalha para garantir que tem o que não precisa.

Vivemos num tempo em que parece obrigatório ter casa, ter carro, ter plasma, ter férias em hotéis de quatro ou cinco estrelas, ter roupas da moda. Vivemos num tempo em que ninguém quer "comprar" tempo. Tempo para ler, tempo para estar com a família, tempo para conhecer o outro, tempo para viver feliz pelo que somos capazes de fazer para ter uma sociedade mais justa.

É connosco que começamos por ser injustos e, por isso, não nos parece nada estranho que sejamos injustos com quem mais precisa. A culpa não é, portanto, apenas dos políticos, mas esta campanha mostra a quem estamos entregues. Todos querem governar, mas ninguém quer discutir o país que somos. Quando precisamos que alguém nos aponte um caminho recebemos dos políticos um beco sem saída.

in JN, Paulo Baldaia

21.5.11

Mae de violadores acusa a escola

Os quatro alunos, de 13 anos, suspeitos de terem agredido e violado uma colega, da mesma idade, numa mata junto à Escola Básica e Integrada de Trancoso, estavam proibidos de sair do estabelecimento de ensino durante o horário das aulas. A menina foi atacada pelas 15h30 de segunda-feira e, por isso, o agrupamento de escolas quer esclarecer como foi possível os menores terem saído e identificar os responsáveis.

"Os meus filhos têm cartão vermelho, pelo que estão proibidos de sair do espaço da escola durante as aulas", garantiu ao CM a mãe de dois dos rapazes envolvidos no ataque à estudante, salientando que "se tudo aconteceu em horário escolar a escola é responsável". Esta encarregada de educação só ontem foi à escola para se inteirar do brutal ataque cometidopelos filhos.

Esta não terá sido a primeira vez que alunos impedidos de se ausentarem do espaço escolar saltaram a vedação e foram para a vila. "Os que quiserem sair, ou saltam a vedação, ou metem-se no meio de outros e ludibriam os funcionários responsáveis pela segurança", explicou um dos pais.

A violação da menina – que disse à mãe que os quatro envolvidos abusaram dela – está a alarmar os pais das crianças de Trancoso, alguns dos quais passaram a levar os filhos à escola. A agravar o clima de insegurança está o facto de os responsáveis da Escola Básica Integrada não terem avisado de imediato a GNR, que só soube do sucedido na quinta-feira à tarde. "Soubemos por um popular. Três dias depois dos factos", desabafou ontem uma fonte da GNR. E a Polícia Judiciária da Guarda também não foi avisada.

O ataque à menina, de 13 anos, está a ser investigado pelo Ministério Público e foi comunicado à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco de Trancoso. Os menores não têm responsabilidade penal mas serão punidos com base na Lei Tutelar Educativa e podem ser internados numa instituição de correcção.

20.5.11

Violada por quatro colegas de escola

Menina de 13 anos atacada por quatro rapazes, da mesma idade, junto ao estabelecimento, que a levaram para uma mata e a violaram sucessivamente

"Aqueles bandidos fizeram da minha filha o que quiseram e destruíram-lhe a vida. Agora o meu maior medo é aquilo que o meu marido possa fazer quando regressar do estrangeiro." O desabafo é de Isabel (nome fictício), mãe de uma menina de 13 anos, agredida e violada por quatro colegas de escola, da mesma idade, em Trancoso. A aluna ficou num "estado lastimável", e os exames periciais, realizados no Instituto de Medicina Legal de Coimbra, confirmaram as agressões sexuais.

O ataque aconteceu na segunda-feira. Eram 15h30 e Sofia (nome fictício) e duas amigas estavam num parque infantil, junto à Escola Integrada de Trancoso. Segundo contou à mãe, os quatro colegas agarraram-na à força e levaram-na para uma zona de mato, onde a violaram. As amigas fugiram com medo. "Apesar de ela ter tentado fugir, porque tem muitos hematomas nas pernas e nos braços, eles tiveram mais força e conseguiram violá-la. Ela diz que foi violada por todos", contou ontem a mãe ao CM, em lágrimas, lamentando que a filha vá "ficar marcada para toda a vida".

Depois de se libertar dos agressores, a menina fugiu para a escola, com a roupa rasgada e suja de terra, e contou tudo a uma auxiliar. A direcção da escola apurou imediatamente o que se passara e chamou a mãe da vítima. "Quando me telefonaram, pensei que algo de grave tinha acontecido, mas estava longe de imaginar uma coisa destas."

A aluna foi assistida no centro de saúde e transferida para o Hospital da Guarda, onde fez exames e os médicos avaliaram as agressões. O caso foi comunicado ao Ministério Público e a menina seguiu, na mesma noite, para o Instituto de Medicina Legal de Coimbra, onde foram feitos exames periciais que confirmaram a violação. "Foi abusada e violada por aqueles patifes", chora a mãe, lamentando que a Justiça "pouco possa fazer" – tendo em conta a idade dos agressores – e exigindo "actuação da escola".

ESCOLA GARANTE QUE VAI ACTUAR COM RAPIDEZ
O presidente do Agrupamento de Escolas de Trancoso garantiu ontem ao Correio da Manhã que, logo na segunda-feira, foi aberto um processo de inquérito com vista a apurar "as circunstâncias" em que se verificou o ataque. Carlos Delgado salientou que a direcção "vai fazer tudo para, dentro do estatuto do aluno, actuar com rapidez". "Nesta altura, não posso dizer mais nada", adiantou. A rapariga atacada e violada faltou à escola na terça-feira "porque não parava de chorar", mas regressou às aulas anteontem. "Fui eu que a incentivei a ir, porque ela não queria enfrentar os agressores. Mas ela está muito em baixo", garante a mãe. Os quatro menores envolvidos no ataque continuam a frequentar as aulas, mas o presidente dos agrupamento garante que "estão acauteladas todas as situações".

IRMÃOS NÃO TINHAM ORDEM PARA SAIR
Os quatro alunos agressores residem em três aldeias do concelho de Trancoso. Dois são irmãos e negaram os factos em casa, acusando apenas um dos suspeitos. A mãe destes menores disse ontem nada saber oficialmente. "Foi a padeira que comentou o caso na aldeia. Depois, soube pela mãe de uma amiga da rapariga agredida", referiu, garantindo que da escola apenas recebeu um telefonema ontem de manhã. "Disseram que me iam enviar uma carta porque os meus filhos estão com um processo disciplinar. Eu quero saber o que se passou porque eles não tinham autorização para sair da escola", garante.

in Correio da Manhã, Luís Oliveira

(continua)

16.5.11

Strauss-Kahn foi reconhecido na polícia




Dominique Strauss-Khann, o responsável máximo pelo FMI detido por suspeitas de agressão sexual, foi reconhecido entre uma fila de indivíduos mostrados pelas autoridades à mulher agredida, explicou a polícia nova-iorquina.
Strauss-Kahn é ouvido hoje em tribunal, numa audiência que chegou a estar marcada para domingo à noite. Segundo o advogado do francês, foi a análise das provas existentes que atrasou a audiência.

«O nosso cliente consentiu voluntariamente em ser sujeito a exames científicos e forenses» disse ainda o advogado, William Taylor. Acrescentou ainda que Strauss-Kahn «está cansado, mas bem».

Um outro advogado que trabalha para Strauss-Kahn, Benjamin Brafman, disse à AP que o seu cliente irá declarar-se inocente. Brafman é um dos mais proeminentes advogados de defesa nova-iorquinos, tendo entre os seus clientes personagens da máfia ou celebridades como Sean «P. Diddy» Combs.

Strauss-Kahn, de 62 anos, foi preso menos de quarto horas depois do alegado ataque, sendo forçado a abandonar o voo da Air France em direcção a Paris que estava prestes a partir do Aeroporto Internacional John F. Kennedy.

O director do FMI estava sozinho quando se registou no luxuoso hotel Sofitel, perto de Times Square, em Manhattan. Os motivos da sua ida a Nova Iorque não são conhecidos, uma vez que a sede do FMI é em Washington e Kahn deveria estar ontem na Alemanha, para um encontro com a chanceler Angela Merkel.

A empregada de quarto - de 32 anos e que trabalhava no hotel há três anos - disse às autoridades que pensava estar sozinha quando entrou na espaçosa suite de 3 mil dólares por noite, ao princípio da tarde de sábado. Mas Strauss-Kahn apareceu nu, saindo da casa-de-banho, e arrastou-a para um quarto, onde a agrediu sexualmente, relatou o porta-voz da polícia de Nova Iorque, Paul J. Browne.

A mulher disse à polícia que lutou com ele, mas que Kahn a arrastou para a casa de banho, onde a forçou a fazer-lhe sexo oral e lhe tentou arrancar a roupa interior. A mulher conseguiu libertar-se, fugiu do quarto e disse aos funcionários do hotel o que tinha acontecido.

Strauss-Khan tinha desaparecido quando detectives chegaram, momentos depois. Tinha-se esquecido do telemóvel e «parecia ter fugido à pressa», disse Browne.

A Polícia de Nova Iorque descobriu que estava no aeroporto, tendo sido detido pela polícia.

AP/ SOL

Há uma especie de homens, que concentram poder público, e o utilizam em proveito dos seus fetiches. A esses designo-os de energúmenos.
Ainda tenho esperança de não ter de incluir Strauss-Kahn nesse grupo social.

Geração indiferente?


Os alunos do 11º e 12º anos da Escola Gonçalo Anes Bandarra, não quiseram desmentir a ideia de que estão desinteressados dos problemas da sociedade actual.

Nem uma pergunta. A conversa, dirigida pelos professores e pelos repórteres da Visão, começou por explicar a ideia da redação móvel da Caravana e tentou captar a atenção dos jovens para assuntos como o emprego, a crise ou a importância da participação cívica. Nada conseguiu retirar aqueles jovens de penteados modernos do seu silêncio.
A animação só surgiu quando os alunos puderam visitar o interior da Caravana. A equipa de repórteres deixou Trancoso com algum otimismo, dado o interesse manifestado pelos jovens nas várias revistas da Visão, que esgotaram em poucos minutos.

11.5.11

Redação móvel Visão no Distrito da Guarda


A Caravana Visão - Redação Móvel - chegou à Guarda no passado dia 8 de Maio e aqui permanecerá até hoje, seguindo depois para Vila Nova de Foz Côa.

Trata-se de um projecto comemorativo dos 18 anos da revista Visão, percorrendo cantos e recantos do "interior ostracizado".

A equipa de redação vai rodando semanalmente, cabendo a responsabilidade da Beira Interior à dupla Paulo Pena e Bruno Rascão.

Recorde-se que Paulo Pena é o autor do trabalho sobre Revolução das Frigideiras (Islândia).

O projecto prevê a realização de palestras nos estabelecimentos de ensino nas cidades visitadas, o contacto da população com os elementos da redacção e entrevistas a "portadores da memória oral" que revelam a identidade regional.

Uma excelente iniciativa que valoriza a identidade rural por oposição ao "interior trágico" revelado pelos meios nacionais na época de fogos florestais ou com a cobertura dos julgamentos de crimes hediondos.

2.5.11

Democracia [na Islândia]

“Islândia: falência levou o dinheiro, não a criatividade Os bancos faliram, as famílias entraram em bancarrota, o Estado estremeceu. Veio o FMI, mas o sistema de protecção social não mudou. Democracia: é a receita dos islandeses para sair da kreppa, o nome da crise na terra do vulcão Eyjafjallajökull. Os banqueiros vão ser julgados. O anterior primeiro-ministro vai ser acusado. A Constituição está a ser revista por cidadãos comuns. A pequena ilha nórdica quase foi ao fundo, mas está a reinventar-se”.

Este lead abre o apetite para uma reportagem notável do jornalista Paulo Pena. Merece por inteiro os 3 euros que a revista custa. Ele captou o espírito islandês e conta-o com desenvoltura e talento, sabendo escolher os melhores exemplos, os casos inspiradores, e tudo o que convocou um pequeno país para uma atitude proactiva, imaginativa, inovadora. Acima de tudo, inteligente e com saída. A revolução que se está a operar na Islândia é admirável - e é claro que aqui no nosso cantinho, ficamos com inveja e perguntamos-nos (eu, pelo menos, pergunto-me...), “porque raio em Portugal não somos capazes de nos juntar e sermos melhores uns para os outros e para nós próprios?”.

A resposta, infelizmente, é simples: a Islândia está em 17° lugar no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano e todos os seus habitantes acima de 15 anos são alfabetizados. Ou seja: um povo culto e desenvolvido facilmente percebe que não vai lá com o choradinho da bancarrota e a entrega das armas ao FMI. Um povo culto e desenvolvido diagnostica os erros cometido, pára para pensar, e determina o seu caminho em função de um novo horizonte. Mesmo que venha ajuda externa.

Exactamente o contrário do que sucede em Portugal: um povo ignorante e pouco desenvolvido tem medo de mudar, nem percebe o que lhe está a acontecer, e por isso prefere dizer “que são todos iguais”, “todos a roubar”, e depois voltar a votar “neles”, ou vai à sua vidinha e nem sequer vota. Esse povo baixa as calças e deixa que tomem conta disto – enquanto os responsáveis se alocam nas empresas privadas que antes os financiaram, e a culpa morre solteira, paga com o dinheiro de quem o não tem. No fundo, um povo ignorante e pouco desenvolvido vive ainda no medo. O medo dos outros, mas em ultima análise de si próprio. O tal “medo de existir”.

É muito fácil fazer como eu faço e escrever uns posts sobre o tema. É mais ou menos como ir para a rua mostrar indignação. Ou fazer uma greve em nome dos “direitos dos trabalhadores”. É tudo muito fácil quando já sabemos que o “mesmo tudo” vai ficar na mesma. Na Islância foi diferente: as manifestações, os protestos, a bancarrota, a crise, foram molas efectivas para uma mudança profunda de paradigma. Não foi conversa nem “protesto” barato. Foram ideias, foram pessoas a chegarem-se à frente, foi no fundo uma palavrinha que gastámos como solas de sapato mas nunca interiorizámos como sangue do nosso sangue: democracia. Leiam a reportagem do Paulo Pena e “oiçam como ela respira”...

in Pedro Rolo Duarte