A melhoria da qualidade dos ecossistemas na região beirã traz de volta o lobo
O Lobo Ibérico - «Canis lupus signatus» - poderá estar de regresso à região beirã. Esta é uma das conclusões a que chegaram estudiosos da espécie, reunidos no II Congresso Luso-Espanhol sobre o Lobo Ibérico, que decorreu em Castelo Branco.
Há pouco mais de cem anos, a espécie podia encontrar-se em quase todo o território nacional, mas hoje está reduzida a cerca de três centenas de animais, concentrados sobretudo no Norte do país. A caça furtiva, o envenenamento ou a simples escassez de alimento devido à intensificação da caça levaram ao declínio do número de lobos, sobretudo na década de 70 do século passado, situação que começa agora a ser invertida.
O presidente do Grupo Lobo, uma instituição do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências de Lisboa, lembra que «tem havido alguns indícios de que o lobo poderá migrar novamente aqui para a região». Francisco Fonseca diz que «há uma série de alterações que põem em causa o lobo, mas outras que o podem favorecer», e aponta como exemplos o que acontece em alguns países da Europa em que o lobo fazia apenas parte do imaginário das histórias infantis, onde no entanto a palavra «mau» surge associada ao nome do animal.
Segundo o Grupo Lobo, não há provas da existência em Portugal de casos de ataques de lobos a seres humanos, recordando que apenas o fazem a outros animais domésticos e só quando têm falta de alimento. Outro problema descrito pelos especialistas é a existência de um grande número de cães vadios, que, à falta de alimento, atacam outros animais, culpa que depois é atribuída ao lobo.
O Grupo Lobo quer ajudar as pessoas a compreender o animal - «para que o lobo não desapareça da memória colectiva», diz Francisco Fonseca - e, como tal, pretende trabalhar junto das crianças e dos jovens, mas também dos pastores e dos caçadores, sobretudo para que o regresso do lobo a uma terra que já foi sua não seja visto como uma invasão por quem não conhece o passado. O presidente do Grupo Lobo admite ainda que «se forem cumpridos os objectivos para que foram criadas», as áreas protegidas - Parque Natural da Serra da Estrela e do Tejo Internacional ou a Reserva da Malcata - podem ter um papel importante na protecção da espécie ibérica.
A utilização de raças portuguesas de cães de gado pode ser outro elemento importante na preservação da espécie. Esta ideia foi deixada por Sílvia Ribeiro, investigadora do Grupo Lobo: «A recuperação da utilização dos cães de gado é uma linha de acção muito prática para a conservação do lobo», algo que ficou comprovado através de uma experiência realizada nas serras de Montemuro e Alvão, nos distritos de Viseu e Vila Real. Ao longo dos últimos oito anos, foram integrados em rebanhos daquelas duas regiões mais de uma centena de cães-pastores, que evitaram, em cerca de 90% dos casos, a aproximação dos lobos aos rebanhos. Ironicamente, uma parte dos cães recrutados para defender os rebanhos acabou por morrer devido a armadilhas destinadas aos lobos.
Fonte: RECONQUISTA