"(...)Comecei precisamente pelas regiões mais pobres do interior, onde os meios mais escasseiam, onde as dificuldades são mais sentidas e onde as perspectivas de desenvolvimento são mais sombrias. Condicionadas pelo envelhecimento acentuado das suas populações, pela degradação do seu tecido produtivo e pelo risco de desertificação do seu território, estas regiões enfrentam a maior das ameaças: o desaparecimento enquanto comunidades.
São regiões que precisam urgentemente de reorientar a sua base produtiva, valorizar os limitados activos humanos e materiais de que ainda dispõem e acautelar o bem-estar e a dignidade dos que, resistindo, se viram excluídos dos benefícios do progresso.
Encontrei experiências, como as do Centro Social de Montes Altos ou a Sociedade Filarmónica de Fratel, onde a iniciativa dos cidadãos conseguiu contrariar o destino que há muito parecia estar traçado. Foi simples o segredo do sucesso: não se resignaram! E, com o apoio das suas autarquias e do governo, conseguiram transformar cada problema numa nova oportunidade. Empreenderam, criaram riqueza, multiplicaram os postos de trabalho e devolveram a esperança e a confiança às suas comunidades.
Estou convencido de que se conseguirmos replicar estas experiências em outras aldeias e vilas do interior, daremos um passo no desenvolvimento social do nosso País. É preciso trabalhar de forma organizada, reunindo e diversificando contributos, actuando em rede e aprofundando a cooperação entre instituições.
Onde a iniciativa particular escasseia, ganha maior relevo o papel desempenhado pelas autarquias. Tive oportunidade de constatar quanto é árdua a sua tarefa, especialmente nas regiões mais periféricas. Mas também pude comprovar a disponibilidade dos nossos autarcas em assumir novas competências e novas responsabilidades, nomeadamente na área social e da educação, bem como o seu empenho no relançamento da base produtiva dos seus Concelhos.
Passada que foi a fase mais entusiástica da construção de infra-estruturas, é, de facto, tempo de abrirmos uma nova página na história dos municípios portugueses: a do desenvolvimento social, do reforço da actividade económica, da promoção da competitividade, da sustentabilidade do bem-estar e da qualidade de vida das suas populações.
Isso requer, por um lado uma inequívoca vontade descentralizadora e, por outro, um maior sentido de cooperação entre as autarquias. Não podemos continuar a remeter para o Governo Central o que poderia, com maior eficácia e resposta mais pronta, ser uma competência das comunidades locais. Não podemos continuar a multiplicar equipamentos, quando o bom senso nos aconselha a saber partilhá-los.
A descentralização para os Municípios de novas competências, especialmente no domínio social e da educação, tem, no entanto, de ser acompanhada por uma nova cultura de intervenção, em que as Autarquias sejam mobilizadoras de recursos locais, potenciadoras da iniciativa dos cidadãos e das organizações não governamentais e coordenadoras das estratégias de desenvolvimento social.
Pude constatar, nos vários Municípios que visitei, o potencial que representam as redes sociais e os conselhos locais de acção social como espaços de afirmação das suas comunidades, em torno de objectivos estratégicos de desenvolvimento social.
Tenho uma grande confiança no contributo que os cidadãos e as suas associações têm vindo a dar para a causa da inclusão social e uma certeza ainda maior no papel que o futuro lhes reserva.
Desvalorizámos por muito tempo esse papel, confundindo responsabilidade social com caridade, participação cívica com protagonismo, voluntariado com assistencialismo."
1 comentário:
"...Passada que foi a faze...da construcao de infra-estruturas... e tempo de abrir-mos... a pagina...do desenvolvimento social,do reforco da actividade economica..."
Assim os nossos autarcas o tenham ouvido.
Um abraco d'Algodres.
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