"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

5.10.08

"A Desertificação do Interior": Notas breves


Parabéns ao blogue Praça da República e ao seu editor João Espinho!

Depois de escutar os quatro oradores convidados, gostava de acrescentar o seguinte:
Hoje não nos faltam diagnósticos. Qualquer um dos presentes - assistência incluída - saberá identificar pormenorizadamente os motivos do atraso estrutural de Portugal, que são os mesmos da sub-região do interior.

O “Triângulo Vazio” referido pelo Prof. Renato do Carmo é a ausência de um projecto comum entre os diferentes actores territoriais, a saber: Politico; Investigação/Ensino; Tecido económico
E essa carência não ocorre apenas na aldeia estudada por esse orador. Acontece nas aldeias, nas cidades e lamentavelmente no país.
É esse “triângulo” que não pode continuar vazio.

Alertou o Dr. Pinho Cardão para uma questão central: A falta de união entre os deputados do interior.
Sabemos que a Madeira aprova e chumba orçamentos. Até mesmo um deputado do CDS foi suficiente para o fazer.

Porque motivo não se juntam os deputados do interior para viabilizarem um projecto, que mais do que importante para esta região, é fundamental para a competitividade do país?
Estaremos a exigir dos mesmos o suficiente?

A cobertura nacional de banda larga permite que a esmagadora maioria das actividades económicas se possam localizar onde mais lhes interessar. Já não têm, como no passado, que estar junto do seu mercado. É por esse motivo que dizemos que na Era da Economia do Conhecimento, esta não tem geografia: Pode estar no Interior de Portugal, na Índia ou onde mais lhe aprouver.
Faltam no entanto recursos humanos qualificados no interior para que este possa ambicionar ser sede profissional de serviços de alto valor acrescentado, como por exemplo, na área dos Sistemas de Informação ou na Consultoria Económica/Financeira.
Mas isso não significa que o interior não venha a captar esses talentos para o interior, principalmente se vier a criar “Centros de Trabalho Partilhado” que mais não são que espaços internet para profissionais que optem por vir viver para as suas segundas residências mas que necessitam de uma infraestrutura mínima para desenvolver aqui a sua actividade.

Outra oportunidade emergente é o NEARSHORING. Tal como ocorreu há 30 anos atrás com a implantação no interior de Portugal, temos renovadas oportunidades para instalar “industria” neste território. No entanto não podemos continuar a pensar na industria dos têxteis ou do calçado. Temos que pensar em Centros de Contacto telefónico, Centros de tratamento de dados (informação), indústria aeronáutica etc.

Se pretendemos ter um interior competitivo, e pegando no contributo do Dr. Jorge Pulido Valente, temos que pensar a uma dimensão regional e não a uma dimensão local: Faz sentido ter a cada 30 kms a repetição de todas as infra-estruturas sociais apenas porque mudamos de concelho?

É comum dizer-se que a “vida boa” pertence às grandes cidades. Foi um estigma com que crescemos e que legitimamente o Prof. António Covas contesta. Quem fizer tal afirmação esquece-se de alguns factores: Qualidade ambiental; Elevados custos de vida; Ausência de vida social; Falta de acesso à cultura, cujos custos para acesso à mesma se tornam incomportáveis com o escasso rendimento disponível.
Pergunto em que é que as metrópoles podem ser melhores que o interior e disponibilizo-me a fazer sobre isso um debate: Haja oradores para a defender.

Sobre este tema temos aqui bem perto um projecto que vale a pena conhecer: http://abrazalatierra.com

Para os interessados deixo também o endereço do projecto de que sou co-autor: http://iregions.org

Quero com este comentário referir que a nova responsabilidade de gestão do território passa em boa parte pela participação activa da população, com destaque para este fortíssimo meio de comunicação que é a blogosfera.

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