"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

21.9.10

Esta geração não é rasca. É empreendedora e inovadora, basta ouvi-los falar


As associações juvenis mostraram, durante três dias, que não se dedicam apenas a actividades de lazer. Sob o lema do empreendedorismo e inovação, a Federação das Associações Juvenis do Distrito da Guarda e o Grupo de Amigos do Manigoto juntaram, no concelho de Pinhel, cerca de 350 jovens que olharam para o futuro e debateram diversas problemáticas ligadas ao desemprego e ao combate à desertificação. Balanço final: “um sucesso assinalável”.

Mesmo depois de uma noite que se tornou mais longa do que o esperado, porque a festa que se desenrolou na freguesia do Manigoto se esticou muito para lá da hora, o Auditório do Cineteatro São Luís encheu para ouvir a radiografia de vários especialistas e anotarem conselhos relativos ao futuro.

O painel que compôs a primeira mesa do dia foi, acima de tudo, transversal. Primeiro, falou o presidente da Associação Ideias.Guarda, Tiago Gonçalves que, além de apresentar a Associação a que preside, apontou as características específicas da Região como das formas de afirmação da economia do distrito da Guarda.

“A Associação [Ideias.Guarda] nasceu da união de jovens do distrito da Guarda, e também de alguns que vieram para cá estudar e por cá ficaram, que acharam que juntos podiam fazer algo pela Região. E é essa mensagem que eu venho cá deixar. Se acharem que podem fazer algo pela vossa terra arrisquem”, sublinhou Tiago Gonçalves.

Depois, o discurso fez-se em Castelhano. O representante da Federação das Associações Juvenis da província de Castilla e León, José Miguel Ortega, abordou a temática dos incentivos financeiros, concedidos pelo Governo de Espanha, apontando o microcrédito como uma das formas de investimento mais vantajosas para os jovens que querem ser empreendedores e embarcar numa aventura chamada inovação.

De regresso a Portugal, leia-se aos representantes portugueses, foi a vez da professora do Instituto Politécnico da Guarda, Teresa Vieira, intervir e defender que “a vertente financeira não pode servir de escape para tudo”. Foi esta a intervenção que mais agradou ao governador civil do distrito da Guarda, Santinho Pacheco.

“Não nos podemos refugiar na questão financeira. O que é preciso é que apareçam boas ideias. Surjam bons projectos que o dinheiro há-de aparecer. É preciso que apareçam coisas de qualidade”, sublinhou a docente.

Seguiu-se o especialista em design de comunicação, Edgar Silva. Contudo, a conversa não foi puramente sobre design. O empreendedor explicou todo o processo que o levou a arriscar e a ser empreendedor. Os trabalhos, concebidos para diversas empresas dos distritos da Guarda e Castelo Branco, cativaram a audiência que “só queria ver o próximo”.

O último a usufruir da palavra foi Luís Coelho. Perante o contexto de globalização, apostou nos idiomas e, hoje, tem várias lojas abertas. “É preciso ter projectos de qualidade e nunca parar porque estes processos são contínuos e quem parar fica para trás”, debruçando-se, ainda, sobre alguns dos projectos que devem surgir em breve.

“Não nos podemos refugiar na questão financeira. O que é preciso é que apareçam boas ideias. Surjam bons projectos que o dinheiro há-de aparecer. É preciso que apareçam coisas de qualidade”

No final do evento o sentimento era generalizado: “dever cumprido”. O presidente da Federação Distrital das Associações Juvenis da Guarda, José Sério, sublinhou a afluência dos mais jovens, embora o mais importante tenha sido o “conteúdo à volta do qual se centrou todo o evento”.

“O nosso ponto alto foi, sem dúvida, o colóquio à volta do empreendedorismo e da inovação. Os conferencistas trouxeram novas ideias e experiências que podem contribuir para o desenvolvimento destes jovens que precisam de ouvir opiniões e vivências diferentes. Espero que estas palavras sirvam para incentiva-los a apostar na ruralidade e nas nossas capacidades”, sublinhou José Sério.

A Câmara Municipal de Pinhel também ficou “orgulhosa” pela forma como se desenvolveu o evento. O vice-presidente do Município de Pinhel, Rui Ventura, salientou a pertinência do acontecimento, e realçou a importância de apostar nos jovens que são “o futuro da Região”.

“É extremamente importante que este tipo de iniciativas consigam aliar a parte do divertimento a uma componente de aprendizagem, nomeadamente nestas que se debruçam sobre o empreendedorismo e a inovação. Este é o momento certo para apostar neste tipo de iniciativas porque o Interior do País está a precisar disto estes jovens, de alguma forma, significam o futuro da Região e, por isso, esta é a melhor aposta que podemos fazer”, sublinhou Rui Ventura.

Por fim, o director regional do centro do Instituto Português da Juventude, Miguel Nascimento, salientou a “dinâmica das associações juvenis da Guarda que conseguem marcar uma posição no panorama nacional”.

in Nova Guarda, André Sousa Martins

20.9.10

Cidades Criativas 3.0

"Em vez de gastar fundos em mais centros culturais e museus da rolha, as autarquias deviam apostar nos centros de criatividade, através da disponibilização gratuita de espaços para encontro, cooperação e produção. Algo do tipo dos já conhecidos Fab Labs, pequenas fábricas do fazer criativo, ou centros para instalação de pequenas empresas, ateliers e projetos dedicados à criatividade e inovação, como é o caso da LxFactory em Lisboa (ainda que esta de iniciativa privada)."

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5.9.10

Cinco milhões de portugueses vivem do dinheiro do Estado

Impostos e descontos para Segurança Social só chegam para pagar salários e prestações sociais

É metade da população: cinco milhões vivem do Estado. Na maioria, porque trabalharam a vida toda e se reformaram, ou estão na Função Pública; outros porque têm subsídios. Mas depois de pagos salários e prestações sociais, pouco sobra para o Estado investir.

Num país como Portugal, com um "Estado social", nem Miguel Beleza nem Eduardo Catroga ficam surpreendidos com facto de mais de cinco milhões de pessoas - quase metade da população - viverem do orçamento público. Na esmagadora maioria, são pessoas que beneficiam dos descontos feitos ou que recebem um salário, por serem funcionários públicos. Mas os dois antigos ministros das Finanças olham para o buraco das contas públicas e o fraco crescimento da economia e asseguram que o caminho é insustentável.

Agora que se escreve o Orçamento de Estado para 2011, que números estão na secretária do ministro Teixeira dos Santos? A começar, os cerca 3,5 milhões de reformados, sobretudo da iniciativa privada, mas também do Estado. São cada vez mais, vivem cada vez mais tempo e são suportados por cada vez menos trabalhadores (agora há menos de cinco milhões de pessoas empregadas).

Em segundo lugar surgem os funcionários públicos, que se estima rondarem os 675 mil e para os quais os sindicatos reivindicam um aumento entre 2% e 3,5%, para compensar a inflação.

Seguem-se as 390 mil pessoas que, em Julho, tinham Rendimento Social de Inserção, um subsídio social, dado mesmo sem descontos para a Segurança Social.

Pelo contrário, só quem fez descontos é que recebe fundo de desemprego e, em Julho, eram 352 mil as pessoas nestas circunstâncias (cerca de metade dos desempregados). Havia, ainda, 105 mil a receber subsídio de doença.

Cinco milhões a tirar o sustento do Orçamento de Estado é viver "à custa" de quem paga impostos? Não e sim. Na maioria, as pessoas trabalham ou fizeram os descontos necessários para agora receber uma pensão ou subsídio.

Mas, justas ou não, as despesas têm um peso avassalador no Orçamento e contribuem para que, todos os anos, o Estado gaste mais do que ganha e se endivide, atirando para as gerações futuras a responsabilidade de pagar a conta. Tal como com as parcerias público-privadas e as empresas públicas, cujos compromissos têm que ser saldados pelos portugueses.

Economia a crescer é solução

Eduardo Catroga traça o panorama: "Salários e prestações sociais são iguais às receitas fiscais e da Segurança Social". Ou seja, a grande fonte de receitas públicas esgota-se nas duas despesas. E fica a faltar tudo o resto: equipamentos sociais, infra-estruturas, saúde, educação, transferências para municípios e regiões autónomas... e os juros da dívida que o Estado acumulou. "Aumentámos a despesa de forma desmesurada", garante Catroga.

Neste panorama, como reduzir o défice? "A margem de manobra é pouca" em Portugal, e a Europa tem mesmo discutido "a capacidade da economia em manter o modelo social", disse Miguel Beleza. Portugal só teria dinheiro para pagar o modelo do "Estado social" se a economia crescer 2% ou 3%, acrescentou Catroga. Ambos apontam o crescimento económico como a melhor forma de controlar as contas públicas, mas as perspectivas de que tal aconteça não são animadoras. Não há "uma saída fácil", reconhece Beleza, admitindo, a par de Catroga, um corte nos salários da Função Pública. Essa hipótese tem sido descartada pelo Governo.

in JN, Alexandra Figueira