"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

29.10.08

Empresários declaram guerra ao aumento do salário mínimo



Dá-me náuseas agudas quando os sindicatos discutem décimas de percentagem em aumentos, uma vez que única forma para combater este momento, sem atirar trabalhadores qualificados para funções desqualificadas, passa pela formação. E essa tem de ser a questão central da concertação social.

Aos "empresários" que sobrescreveram este manifesto, baseando a sua actividade em mão de obra de baixo custo, só posso manifestar as minhas condolências: As actividades desenvolvidas pela mão de obra desqualificada estarão em breve, como todas outras, a operar na China.
Em resumo, o que está mal não é um aumento de 26 euros no salário mínimo mas sim o modelo de negócio daqueles que não o conseguem suportar.

18.10.08

A ALDEIA QUE FOGE À TRISTE REGRA DO INTERIOR


Um oásis em Trás-os-Montes. O que é que a aldeia de Palaçoulo, em Miranda do Douro, tem de diferente das outras aldeias de Trás-os-Montes? Na escola do ensino básico surgiu uma segunda turma, não há população desempregada. É um verdadeiro oásis, dizem, no reino da desertificação

Escola Primária de Palaçoulo reabre com mais uma turma

O David quer ser caçador quando for grande. A professora explica-lhe que caçar coelhos, perdizes ou até mesmo javalis, nos montes do planalto mirandês, não é profissão. Então, talvez seja electricista como o pai, que, quando chega o mês de Outubro, também anda pelos montes a dar caça às espécies cinegéticas. David, 10 anos, frequenta uma das raras escolas de aldeia do interior transmontano. E uma escola com muitos alunos, correrias, risos e brincadeiras no hora do recreio.

Este ano, David viu chegar seis novos colegas. E uma nova professora, porque a escola do 1.º ciclo básico de Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro, de uma passou a ter duas turmas. Caso único, espantoso, num distrito que viu, só nos últimos três anos, encerrar 220 estabelecimento de ensino. E aqui o crescimento da comunidade estudantil não se deve a filhos de imigrantes, como aconteceu há anos no Algarve: são filhos de jovens casais de Palaçoulo.

Nesta aldeia onde os mais velhos ainda falam o mirandês, ao contrário do resto do País, não há desemprego. A indústria da tanoaria e das cutelarias absorve toda a mão-de-obra jovem da terra e de "aldeias vizinhas", diz com orgulho José Augusto Ramos, antigo guarda fiscal, agora presidente da junta de freguesia. E mais casais jovens, por certo, ficarão na terra onde nasceram quando avançar o loteamento, feito pela autarquia, que permitirá a construção de doze fogos.

Conceição Mendo, há dois anos a leccionar em Palaçoulo, encontrou nesta aldeia de Miranda alunos com conhecimentos "razoáveis". "São crianças que já têm computador em casa e sabem lidar bem com as novas tecnologias." Os pais, o casal, estão empregados. "Depois do trabalho na fábrica, vão para o campo e todos cultivam a sua horta." Este complemento sadio, segundo a professora, permite-lhes "um nível económico sem grandes problemas".

David, o menino que deseja ser caçador como o pai, gostava de aprender o dialecto dos seus antepassados. Aliás, todos os alunos do 4.º ano manisfestaram esse desejo. E podiam aprender o mirandês, disciplina optativa, a par do inglês. À entrada da aldeia, na placa toponímica o nome aparece grafado em Português e no dialecto local. Os pais, contudo, não acharam importante os seus filhos saberem falar e escrever em mirandês. Já em Sendim, na outra escola do agrupamento, os alunos recebem duas horas semanais dessa língua.

Se no 1.º ciclo do ensino básico houve um crescimento de alunos, na pré-primária, que funciona mesmo ao lado da escola, a história é um pouco diferente. Pela primeira vez, nos últimos anos, saíram crianças (as seis que forçaram a duplicação da turma) e não entrou nenhuma. A situação não é preocupante, garante a educadora Ermelinda Fernandes. "Palaçoulo é uma aldeia em desenvolvimento", diz. Dentro de três ou quatro anos, o jardim infantil , agora com meia dúzia de meninos, voltará a atingir o número de "12 ou 13 crianças".

Palaçoulo com tecnologia ao nível da indústria alemã

Trabalho. Empresas familiares passam fronteiras e travam despovoamento

Chamam-lhe o "oásis" no meio da desertificação transmontana. Na aldeia de Palaçoulo, terra de fabricantes de pipas , facas e canivetes, não há desemprego. A agricultura, outrora a principal actividade, está em declínio, mas as indústrias locais, todas elas familiares, sustêm o despovoamento.

A família Gonçalves tem um século de experiência na arte de tanoaria. Da pequena oficina artesanal, passou a fábrica com a mais moderna tecnologia, que exporta "80 a 90 %" da sua produção". As pipas aqui produzidas destinam-se, refere José Gonçalves, a mercados como o dos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, França, Chile e Argentina.

A tanoaria da família Gonçalves dá emprego a 42 pessoas. O volume anual de negócios ronda os 5 milhões de euros. "Não é nada do outro mundo", refere José Gonçalves, jovem empresário, que ajudou à duplicação da turma da escola do ensino básico: um filho entrou agora para o 1.º ano, tem outro na pré-primária. "Não é nada do outro mundo, porque estamos numa aldeia. E se dizem que isto é um oásis, o que nos cerca, toda a região transmontana, é um deserto!"

Palaçoulo também nos remete para as cutelarias, com grande tradição na aldeia, que fica a cerca de 25 quilómetros de Espanha. Na mais familiar de todas, os três irmãos Pires, que aprenderam a arte com o pai, fizeram em tempos "o maior canivete do mundo". Não saberemos se é ou não o maior de todos. Um coisa é certa, vimos a réplica e tal navalhinha impõe--se: aberta mede quase quatro metros, pesa 122 quilos.

Os irmãos Pires, presença habitual nas principais feiras de artesanato do País, demoraram nove dias a fabricar o gigantesco objecto. Esta casa - aos três irmãos junta-se outro artesão - além dos canivetes, alguns com cabo de chifre de veado ou de dente de javali, fabrica facas, punhais, cutelos e machados.

Com outra dimensão são as duas fábricas de cutelarias: a de José Afonso Martins e a FilMAM. Empregam 40 trabalhadores e disputam mercado além fronteiras. "Temos tecnologia evoluída ao nível dos alemães", diz o sócio gerente da Afonso Martins. Espanha, França, Itália e Angola são alguns dos países para onde são exportadas as cutelarias de Palaçoulo.

Uma das empresas, familiares como todas as outras existentes na aldeia de Trás-os-Montes profundo, tem licenciamento para produzir, desde este ano, canivetes com os símbolos dos três grandes do futebol português: Benfica, Porto e Sporting.

A freguesia de Palaçoulo tem 700 habitantes. O presidente da junta, José Augusto Ramos, deseja preservar a memória da agricultura tradicional da sua agora industrializada aldeia. Um particular ofereceu-lhe o espólio, fruto de recolhas de anos. Falta o espaço para o museu.

in Diário de Notícias

15.10.08

ALDEIAS LAR


Duas povoações portuguesas aproximam-se de modelo inovador para apoiar idosos

Duas povoações do interior de Portugal, uma no Algarve e outra no Alentejo, aproximam-se de um modelo "inovador" que pretende transformar em "aldeias lar" para apoiar idosos as povoações em risco de desertificação. Trata-se da aldeia de São José de Alcalar, construída de raiz na freguesia da Mexilhoeira Grande, em Portimão, e de São Martinho das Amoreiras, no concelho alentejano de Odemira (Beja).

O modelo de "aldeias lar" é uma das "respostas concretas" para combater o envelhecimento da população e a desertificação do interior do país, que João Martins, professor universitário de Beja, vai propor na sua tese de doutoramento em Planificação Integral e Desenvolvimento Regional.

Em declarações à agência Lusa, o autor explicou que o modelo consiste em "revitalizar" as aldeias e vilas do interior do país com população envelhecida e em risco de desertificação, transformando-as em "aldeias lar". "Através de investimento público, privado ou misto, as casas devolutas ou abandonadas nestas povoações poderão ser adquiridas e reconvertidas em apartamentos para a habitação de idosos", precisou.

Além das habitações e dos equipamentos e serviços normais em qualquer localidade, continuou, o modelo sugere a criação de "unidades de apoio a idosos", onde, exemplificou, "poderão ser prestados serviços médico-sociais, como cuidados geriátricos ou paliativos".

De acordo com João Martins, São José de Alcalar, a nove quilómetros de Portimão, "apesar de ter sido construída de raiz, aproxima-se do modelo proposto de «aldeias lar»”. São José de Alcalar é a concretização do "sonho" do padre da Mexilhoeira Grande, Domingos Costa, que, explicou à Lusa, decidiu construir uma aldeia para "alojar idosos carenciados, sobretudo casais, que não podem continuar nas suas casas, mas também não se sentem bem nos lares tradicionais".

Na aldeia algarvia, propriedade da Fábrica da Igreja Paroquial da Mexilhoeira Grande e que começou a funcionar em 1995, vivem actualmente 105 idosos, de várias zonas do país, em 52 moradias dispostas em dois blocos circulares, um com 26 T1 e o outro com 26 T3.

Além das moradias, a aldeia dispõe também de um edifício central, com um refeitório, um bar, uma sala de actividades de tempos livres, uma lavandaria e um posto de saúde, onde um médico e uma enfermeira prestam cuidados de saúde primários aos idosos. Com uma área de cinco hectares, a aldeia dispõe ainda de uma capela e de um centro juvenil, frequentado por 170 crianças. Os serviços centrais da aldeia, que empregam 28 pessoas, além das refeições diárias, apoiam ainda os idosos nos cuidados de higiene pessoal e das habitações e promovem actividades de animação.

Depois da aldeia dos idosos, Domingos Costa já está a preparar a construção, que deverá começar em 2008, de um "novo sonho", a Aldeia dos Querubins, destinada a crianças.

No Alentejo, à entrada de São Martinho das Amoreiras, existe um lar "inovador", que começou a funcionar há quase um ano e, segundo João Martins, é uma valência que pode funcionar como "ponto de partida" para a aldeia se "transformar" numa "aldeia lar".

Propriedade da Casa do Povo, o Lar de São Martinho das Amoreiras, além de funcionar como centro de dia para 20 idosos e prestar apoio domiciliário a 30 utentes, dispõe da valência de internamento, com uma capacidade total de 25 camas.

Nesta valência, além de sete quartos com duas camas cada, o lar dispõe de seis apartamentos (um com um quarto individual e cinco com um quarto duplo cada), todos equipados com cozinha e casa de banho e preparados para pessoas com deficiência.

"Os apartamentos são uma valência de internamento inovadora, pelo menos no concelho, onde os outros lares dispõem apenas de quartos normais", salientou à agência Lusa o presidente da Casa do Povo, Mário Neves. De acordo com o responsável, a valência de internamento "está esgotada", com idosos, na sua maioria, provenientes do concelho de Odemira, e, actualmente,
"tem uma lista de espera de 60 pessoas". "É pena o lar não dispor de uma maior capacidade", lamentou Mário Neves, frisando que "se mais quartos e apartamentos houvessem, mais estariam ocupados".

Com o "moderno" lar, orçado em um milhão de euros e co-financiado em 80 por cento pela Segurança Social, salientou Mário Neves, "criou-se emprego" e a "maior parte" dos utentes (50), que frequentam o centro de dia e recebem apoio domiciliário, "não teve que abandonar as suas casas e ir para um lar".

Os 25 idosos "internados" no lar, que dormem nos quartos ou vivem nos apartamentos, frisou, "pelo menos, não tiveram que sair da aldeia ou do concelho e vivem em melhores condições e com apoio".


Por Luís Miguel Lourenço, da agência Lusa

in Solidariedade.Pt

11.10.08

Apple dá emprego a 150 em Braga


A Apple Europa estabeleceu um contrato com a IBM Portugal para a prestação de serviços de suporte a clientes e externalização de processos de negócio, uma actividade de apoio administrativo mais conhecida pela designação anglo-saxónica de Business Process Outsourcing (BPO).

O negócio, que está envolto em grande sigilo por imperativos contratuais, vai permitir a criação de 150 postos de trabalho em Braga. De salientar que a subsidiária portuguesa da IBM já dispunha nesta cidade do Minho, e também em Lisboa, de centros de prestação de serviços para a BP e a Unilever que empregam 250 pessoas.

Portugal foi escolhido pela boa relação preço/qualidade da mão-de-obra em relação a outros países europeus, nomeadamente Irlanda. Segundo Carlos Zorrinho, coordenador do Plano Tecnológico, Portugal está na mira de um número crescente de multinacionais, após algumas das subsidiárias (Microsoft e Toshiba) terem sido consideradas as melhores do mundo.

in EXPRESSO

5.10.08

"A Desertificação do Interior": Notas breves


Parabéns ao blogue Praça da República e ao seu editor João Espinho!

Depois de escutar os quatro oradores convidados, gostava de acrescentar o seguinte:
Hoje não nos faltam diagnósticos. Qualquer um dos presentes - assistência incluída - saberá identificar pormenorizadamente os motivos do atraso estrutural de Portugal, que são os mesmos da sub-região do interior.

O “Triângulo Vazio” referido pelo Prof. Renato do Carmo é a ausência de um projecto comum entre os diferentes actores territoriais, a saber: Politico; Investigação/Ensino; Tecido económico
E essa carência não ocorre apenas na aldeia estudada por esse orador. Acontece nas aldeias, nas cidades e lamentavelmente no país.
É esse “triângulo” que não pode continuar vazio.

Alertou o Dr. Pinho Cardão para uma questão central: A falta de união entre os deputados do interior.
Sabemos que a Madeira aprova e chumba orçamentos. Até mesmo um deputado do CDS foi suficiente para o fazer.

Porque motivo não se juntam os deputados do interior para viabilizarem um projecto, que mais do que importante para esta região, é fundamental para a competitividade do país?
Estaremos a exigir dos mesmos o suficiente?

A cobertura nacional de banda larga permite que a esmagadora maioria das actividades económicas se possam localizar onde mais lhes interessar. Já não têm, como no passado, que estar junto do seu mercado. É por esse motivo que dizemos que na Era da Economia do Conhecimento, esta não tem geografia: Pode estar no Interior de Portugal, na Índia ou onde mais lhe aprouver.
Faltam no entanto recursos humanos qualificados no interior para que este possa ambicionar ser sede profissional de serviços de alto valor acrescentado, como por exemplo, na área dos Sistemas de Informação ou na Consultoria Económica/Financeira.
Mas isso não significa que o interior não venha a captar esses talentos para o interior, principalmente se vier a criar “Centros de Trabalho Partilhado” que mais não são que espaços internet para profissionais que optem por vir viver para as suas segundas residências mas que necessitam de uma infraestrutura mínima para desenvolver aqui a sua actividade.

Outra oportunidade emergente é o NEARSHORING. Tal como ocorreu há 30 anos atrás com a implantação no interior de Portugal, temos renovadas oportunidades para instalar “industria” neste território. No entanto não podemos continuar a pensar na industria dos têxteis ou do calçado. Temos que pensar em Centros de Contacto telefónico, Centros de tratamento de dados (informação), indústria aeronáutica etc.

Se pretendemos ter um interior competitivo, e pegando no contributo do Dr. Jorge Pulido Valente, temos que pensar a uma dimensão regional e não a uma dimensão local: Faz sentido ter a cada 30 kms a repetição de todas as infra-estruturas sociais apenas porque mudamos de concelho?

É comum dizer-se que a “vida boa” pertence às grandes cidades. Foi um estigma com que crescemos e que legitimamente o Prof. António Covas contesta. Quem fizer tal afirmação esquece-se de alguns factores: Qualidade ambiental; Elevados custos de vida; Ausência de vida social; Falta de acesso à cultura, cujos custos para acesso à mesma se tornam incomportáveis com o escasso rendimento disponível.
Pergunto em que é que as metrópoles podem ser melhores que o interior e disponibilizo-me a fazer sobre isso um debate: Haja oradores para a defender.

Sobre este tema temos aqui bem perto um projecto que vale a pena conhecer: http://abrazalatierra.com

Para os interessados deixo também o endereço do projecto de que sou co-autor: http://iregions.org

Quero com este comentário referir que a nova responsabilidade de gestão do território passa em boa parte pela participação activa da população, com destaque para este fortíssimo meio de comunicação que é a blogosfera.

3.10.08

Castelo Rodrigo: Câmara apoia jovens casais

A Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo vai atribuir apoios por cada criança que nasça no concelho e aos jovens casais que se fixem no município, como forma de aumentar a natalidade, combater a desertificação e o envelhecimento da população.


Os valores das subvenções variam entre os 500 e os 750 euros, sendo o valor máximo atribuído a um agregado familiar que tenha um rendimento ‘per capita’ inferior ao valor mensal da Pensão Social no ano da candidatura. Os casais terão ainda de provar a sua deslocação para o concelho, tendo fixado residência há mais de um ano.

“Os municípios do interior estão despovoados de massa crítica, investimento e receitas próprias e, consequentemente, obrigados a mais investimento social, de inclusão e a mais obrigações culturais”, explicou esta quarta-feira o presidente da autarquia, António Edmundo, afirmando que “é verdade que são medidas que apenas tentam inverter o processo de desertificação”.

“Em boa verdade não temos conseguido estancar a sangria populacional para o litoral, para Espanha ou outras paragens”, confessou o autarca. “Se não fossem estes incentivos e inúmeras reduções de taxas autárquicas, como estaria hoje o interior?”, questionou.

O regulamento de atribuição de subsídios, já aprovado em Assembleia municipal, tem aplicação durante o biénio de 2008/2009 e entra em vigor já na segunda quinzena de Outubro. As candidaturas serão acompanhadas e avaliadas por uma comissão técnica criada para o efeito.

in Correio da Manhã