"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"
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3.6.11

Setembro 1995

Poucos recordarão esta data.
Estava na rua uma campanha eleitoral. O PSD era dirigido por Fernando Nogueira e o PS por António Guterres.
Cavaco Silva tinha deixado a liderança do PSD, pelo seu próprio pé.

Fernando Nogueira não arrastava multidões. E os seus camaradas controlavam o Estado.

Os portugueses estavam cansados da manipulação do PSD sobre a "coisa pública".

Guterres ganhou as eleições debaixo de um banho de multidão.
Descentralizou competências e deu autonomia às autarquias.
Mas vacilou a enfrentar as corporações, que NUNCA se ocuparam da defesa do Estado: Banca; Empreiteiros; Farmácias; Sindicatos.

O termo "boys" entrou no léxico e na cultura. Narciso Miranda reclamou publicamente mais direitos para esses parasitas partidários.

O PS demorou demasiado tempo a reconhecer o valor de Narciso e das suas ideias para o país. E tal aconteceu de forma trágica: O falecimento de Sousa Franco, envolvido no caciquismo de Narciso.

Desde Outubro de 1995 que o país é governado pelo PS, excluindo o período 2002 a 2005 em que António Guterres saiu pelo seu pé do Governo.

Nesse período, o PSD prestou um péssimo serviço ao país: Durão Barroso abandona as funções que lhe foram confiadas pelos portugueses e confirmadas pelo Presidente da Républica.
O Estado Maior do PSD aproveita o momento para passar uma rasteira a Pedro Santana Lopes, com a despesa a ser paga pelos contribuintes.

Os portugueses não mereciam esta desconsideração do PSD. Santana Lopes não teve maturidade política para se retirar.

Caímos no "Pântano" e Sócrates traz um projecto para Portugal.
Os portugueses deram-lhe maioria absoluta.

A par de uma estratégia de exportação para as empresas portuguesas, Sócrates cede à tentação da IMAGEM.
Num país pequeno e com uma elevada participação do Estado na economia, torna-se fácil a manipulação dos media.
A Ética não esteve presente. Nem a determinação que faltou a Guterres para as reformas estruturais: Função Pública; Segurança Social; Justiça; Poder Local; etc, etc.
Entrámos por isto na 3ª via: Endividamento.
Incapazes de fazer as necessárias reformas, o Governo entregou a meia dúzia de empresas alguns contratos capazes de trazer muito dinheiro para a nossa economia, e gerar dezenas de milhares de postos de trabalho para serventes nas obras públicas.
Meia dúzia de empresas.
Mas este dinheiro não é fruto da nossa produção. Nós vamos pagá-lo da pior maneira possível.

Sócrates desperdiçou a maioria absoluta e recebeu de presente um convite à sua saida da governação.
Não o aceitou e no próximo Domingo saberemos se tem ou não razão.

Enquanto cidadão, espero que o nosso país traga mais justiça social, e mais respeito pelos contribuintes.
O Estado não pode continuar a gastar como se não existesse o amanhã. Não pode manter funcionários que desistiram de defender o interesse público e de desenvolver as funções que lhes estavam confiadas. Não pode impedir que os nossos jovens substituam a "velha guarda" na Função Pública. Não pode fazer obra que não gera rendimento para a população. Não pode manter Direitos a farmácias, bancos e trabalhadores como até aqui.

É tempo de mudar. É preciso mudar.

Acredito que Junho 2011 vai marcar uma nova página na história de Portugal.

31.5.11

Ligados à máquina

Na TSF, ouvi na quinta-feira o padre Jardim Moreira, do Observatório Europeu Anti-Pobreza, dizer que "os pobres não precisam de esmola, precisam de justiça" e pus-me a pensar que as crises são de facto terreno fértil da pobreza, mas ela não nasce do nada. Para que a pobreza seja o flagelo que é hoje em Portugal o principal factor não é a falta de dinheiro, é a falta de justiça.

E não, não são os políticos os únicos responsáveis pela construção da sociedade injusta em que vivemos. E a não existência de igualdade de oportunidades para todos os portugueses não é apenas uma questão de egoísmo da parte que nasce em berço de ouro. Vivemos numa sociedade de consumo em que a famosa classe média vive para trabalhar e trabalha para garantir que tem o que não precisa.

Vivemos num tempo em que parece obrigatório ter casa, ter carro, ter plasma, ter férias em hotéis de quatro ou cinco estrelas, ter roupas da moda. Vivemos num tempo em que ninguém quer "comprar" tempo. Tempo para ler, tempo para estar com a família, tempo para conhecer o outro, tempo para viver feliz pelo que somos capazes de fazer para ter uma sociedade mais justa.

É connosco que começamos por ser injustos e, por isso, não nos parece nada estranho que sejamos injustos com quem mais precisa. A culpa não é, portanto, apenas dos políticos, mas esta campanha mostra a quem estamos entregues. Todos querem governar, mas ninguém quer discutir o país que somos. Quando precisamos que alguém nos aponte um caminho recebemos dos políticos um beco sem saída.

in JN, Paulo Baldaia

16.5.11

Geração indiferente?


Os alunos do 11º e 12º anos da Escola Gonçalo Anes Bandarra, não quiseram desmentir a ideia de que estão desinteressados dos problemas da sociedade actual.

Nem uma pergunta. A conversa, dirigida pelos professores e pelos repórteres da Visão, começou por explicar a ideia da redação móvel da Caravana e tentou captar a atenção dos jovens para assuntos como o emprego, a crise ou a importância da participação cívica. Nada conseguiu retirar aqueles jovens de penteados modernos do seu silêncio.
A animação só surgiu quando os alunos puderam visitar o interior da Caravana. A equipa de repórteres deixou Trancoso com algum otimismo, dado o interesse manifestado pelos jovens nas várias revistas da Visão, que esgotaram em poucos minutos.

2.5.11

Democracia [na Islândia]

“Islândia: falência levou o dinheiro, não a criatividade Os bancos faliram, as famílias entraram em bancarrota, o Estado estremeceu. Veio o FMI, mas o sistema de protecção social não mudou. Democracia: é a receita dos islandeses para sair da kreppa, o nome da crise na terra do vulcão Eyjafjallajökull. Os banqueiros vão ser julgados. O anterior primeiro-ministro vai ser acusado. A Constituição está a ser revista por cidadãos comuns. A pequena ilha nórdica quase foi ao fundo, mas está a reinventar-se”.

Este lead abre o apetite para uma reportagem notável do jornalista Paulo Pena. Merece por inteiro os 3 euros que a revista custa. Ele captou o espírito islandês e conta-o com desenvoltura e talento, sabendo escolher os melhores exemplos, os casos inspiradores, e tudo o que convocou um pequeno país para uma atitude proactiva, imaginativa, inovadora. Acima de tudo, inteligente e com saída. A revolução que se está a operar na Islândia é admirável - e é claro que aqui no nosso cantinho, ficamos com inveja e perguntamos-nos (eu, pelo menos, pergunto-me...), “porque raio em Portugal não somos capazes de nos juntar e sermos melhores uns para os outros e para nós próprios?”.

A resposta, infelizmente, é simples: a Islândia está em 17° lugar no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano e todos os seus habitantes acima de 15 anos são alfabetizados. Ou seja: um povo culto e desenvolvido facilmente percebe que não vai lá com o choradinho da bancarrota e a entrega das armas ao FMI. Um povo culto e desenvolvido diagnostica os erros cometido, pára para pensar, e determina o seu caminho em função de um novo horizonte. Mesmo que venha ajuda externa.

Exactamente o contrário do que sucede em Portugal: um povo ignorante e pouco desenvolvido tem medo de mudar, nem percebe o que lhe está a acontecer, e por isso prefere dizer “que são todos iguais”, “todos a roubar”, e depois voltar a votar “neles”, ou vai à sua vidinha e nem sequer vota. Esse povo baixa as calças e deixa que tomem conta disto – enquanto os responsáveis se alocam nas empresas privadas que antes os financiaram, e a culpa morre solteira, paga com o dinheiro de quem o não tem. No fundo, um povo ignorante e pouco desenvolvido vive ainda no medo. O medo dos outros, mas em ultima análise de si próprio. O tal “medo de existir”.

É muito fácil fazer como eu faço e escrever uns posts sobre o tema. É mais ou menos como ir para a rua mostrar indignação. Ou fazer uma greve em nome dos “direitos dos trabalhadores”. É tudo muito fácil quando já sabemos que o “mesmo tudo” vai ficar na mesma. Na Islância foi diferente: as manifestações, os protestos, a bancarrota, a crise, foram molas efectivas para uma mudança profunda de paradigma. Não foi conversa nem “protesto” barato. Foram ideias, foram pessoas a chegarem-se à frente, foi no fundo uma palavrinha que gastámos como solas de sapato mas nunca interiorizámos como sangue do nosso sangue: democracia. Leiam a reportagem do Paulo Pena e “oiçam como ela respira”...

in Pedro Rolo Duarte

5.4.11

Você também tem culpa, caro leitor

Desculpe dizer-lhe isto assim, mas não estamos em época de salamaleques: você, caro leitor, tem culpa do buraco em que o país se afundou.

Claro que não tem tanta culpa quanto os primeiros-ministros que nos últimos 15 anos passearam por Belém, nem quanto as centenas de ministros e secretários de Estado que aceitaram bovinamente os infindos dislates que nos trouxeram até à banca rota. Esses, os chamados "políticos", pecaram por acção. Mas você, eu, todos nós, pecámos por omissão: porque vivendo em democracia, tendo nas nossas mãos o poder de dizer quem manda em Portugal, fomos aceitando um verdadeiro cortejo de mediocridades até chegarmos ao engenheiro Sócrates.

Nós, todos nós, falhámos enquanto sociedade. Não se trata aqui de diluir as culpas num todo abstracto, até chegarmos àquele ponto em que sendo todos culpados ninguém o é verdadeiramente. Trata--se de assumir o dever urgente de repensar o que significa ser um cidadão no Portugal do século XXI.

Com o avanço da democracia e a melhoria das condições de vida, a política tornou-se uma actividade distante. Mas da mesma forma que não é admissível ser-se "apolítico" durante uma ditadura, também agora, nesta encruzilhada da nossa história, ser-se "apolítico" não é uma opção moralmente aceitável. Neste momento, os portugueses parecem-se com aquelas pessoas que já tiveram tantas relações falhadas na vida que deixaram de acreditar no amor. Só que quem deixa de acreditar no amor tem sempre a hipótese de ficar a viver sozinho – e Portugal não tem hipótese de ficar sem governo. Cruzar os braços e suspirar "eles são todos iguais" pode ter sido uma opção durante duas décadas. Não é mais. A política tem de voltar a ser discutida na rua, nos cafés, ao jantar. Nós chegámos à bancarrota porque cometemos o pior dos erros: deixámos a política nas mãos dos políticos.

in Correio da Manhã, João Miguel Tavares

13.3.11

12 de Março não pode ser ignorado



Creio que o factor comum a todos os manifestantes é a crise do emprego em Portugal.

Julgo que este é o tema que merece ser debatido: Porque não há contratações? Porque cristalizaram as empresas as suas estruturas de topo?

A actualidade mostra-nos que as grandes ideias nascem nos jovens: Microsoft; Apple; Google; Facebook; Twitter.
Apenas para falar dos exemplos mais mediáticos.

Creio que hoje é o dia certo para começarmos a discutir o que correu mal em Portugal em matéria de aproveitamento de Recursos Humanos.

20.1.11

Luís Vaz de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

11.10.10

«O Governo merecia uma sapatada»


Economista diz que o Ministério das Finanças já não é credível e parece «uma barraca de farturas»

O economista Medina Carreira não está pelos ajustes com o actual Governo. Em entrevista ao «Diário de Notícias», diz que o primeiro-ministro «já não tem crédito» e que o executivo «merecia uma sapatada».

«Há uns dois anos que não acredito naquilo que o Ministério das Finanças», por isso, acha que faz todo o sentido uma agência independente para controlar as contas públicas, como sugere o Banco de Portugal. «O Ministério das Finanças não merece crédito! Aquilo já é considerado uma barraca de farturas».

Acredita que o Governo foi «coagido» a tomar as mais recentes medidas de austeridade. «Nós temos, no chamado Estado social, qualquer coisa como seis milhões de portugueses. Tocar em salários, pensões, subsídios de doença ou de desemprego é uma tragédia, porque são seis milhões de portugueses que se põem de pé. Este último pacote... Não sei de quem foi exigência, se da senhora Merkel ou não, mas o Governo terá agido também sob uma pressão muito forte, senão não teria ido aos salários».

«O Governo não tem estratégia nenhuma na cabeça»

Não tem dúvidas de que «não há estratégia nenhuma! O primeiro-ministro não tem estratégia nenhuma na cabeça senão andar a fazer espectáculo e ir conciliando as circunstâncias para ver se vai durando. Aliás, este primeiro-ministro foi realmente uma desgraça para o País: nem tocou nos aspectos financeiros, nem tocou nos aspectos económicos».

Ainda assim, admite, não há outro remédio senão deixar passar o Orçamento do Estado (OE) para 2011, para acalmar os mercados. Passos Coelho deve abster-se explicando as razões ao País.

Pacotes de austeridade: ainda vêm aí mais

O ex-ministro das Finanças de Mário Soares ganhou notoriedade pública mais recentemente, fazendo a denúncia do crescente endividamento do País. Durante muito tempo foi apontado como um «catastrofista», mas o tempo deu-lhe razão.

Medina Carreira acredita que virão aí ainda mais pacotes de austeridade. «Quando chegarmos a 2013, saem as Scut e começam a entrar as parcerias público-privadas no Orçamento. Mil milhões, mil e seiscentos milhões, mil e quinhentos milhões todos os anos! Depois de termos isto arrumado, aparece a desarrumação. Nessa altura, é quase com certeza necessário outras medidas».

Cortar nas piscinas e redondéis a direito

Uma das áreas em que o economista diz ser preciso corar o quanto antes é na despesa das autarquias. «Por exemplo, o mapa autárquico de mil oitocentos e tal não presta. Temos 30% de municípios com menos de dez mil habitantes... O que pagam de impostos não dá para o presidente da câmara, o chauffeur e a secretária! Tem de se reorganizar o mapa autárquico. 4.500 freguesias é um disparate! E, no mapa autárquico, sabe porque não se mexe? Porque há presidentes de câmara que têm de ir tratar da vida para outro sítio. Não se faz nada que mexa em interesses!», diz.

Nas empresas municipais, a palavra de ordem é «suprimir a eito». «A gente viveu sem elas até há cinco anos! O que houve foi um esperto que descobriu que aquilo era maneira de fugir com o dinheiro às contas. Endividam-se pelas empresas municipais, e não se endividam pelas câmaras. Se estivesse nas finanças, no dia em que aparecesse a primeira, não deixava andar nem mais uma! Acabar com piscinas, redondéis, coisas onde se gasta dinheiro. Dizem: "Mas isso fez parte do meu programa." "Ai fez? E ganhou? Vá pedir aos seus votantes que lhe dêem dinheiro para fazer isso!" Porque eles querem cumprir os programas assumindo dinheiros que não têm».

Medina Carreira não quer falar em corte de apoios sociais, mas «há coisas que deve ser o ministro das Finanças a autorizar. Os carros devem ser modelo médio para ministros, e têm de durar cinco ou seis anos. Quando fui ministro, tinha um carro recuperado da sucata da alfândega de Lisboa».

10.5.09

Sustentabilidade da Segurança Social



Uma matéria em que ninguém se entende!
O motivo é simples: Quem tem 36 anos de "descontos" considera-se no direito de ter reforma. Foi uma expectativa que se criou.
Mas os pressupostos eram outros: A esperança média de vida coincidia com a idade da reforma.
Hoje não podemos desejar descontar 22% do ordenado durante 36 anos e beneficiar a seguir de 30 anos a 100%. São as contas óbvias da insustentabilidade.

Os argumentos de quem defende este modelo são retaliatórios: Apontam para os ABUTRES da nossa sociedade cujo expediente para cálculo da reforma revelam indícios de corrupção sobre o Estado.

Proponho uma fórmula simples, sustentável e creio que consensual: Uma elevada percentagem da nossa reforma ser calculada em função dos descontos nossos "descendentes". Entenda-se por descendentes não exclusivamente os filhos. (Porque não nomear como beneficiário uma professora ou um tutor na declaração de IRS?)

Em termos práticos a nossa reforma seria a recompensa da nossa contribuição para a geração "activa".

É a minha perspectiva de solidariedade inter geracional.

9.2.09

Encostado ou não?


Já pensou no número de pessoas que a sua empresa tem e que estão rigorosamente “encostadas”, desaproveitadas e desmotivadas ?

Ouvimos diariamente que são tempos de grandes restrições aqueles que vêm aí.

Aliás, já o sentimos desde o ano que passou. E, por isso, é compreensível que as decisões de gestão das empresas estejam em harmonia com a conjuntura económica e com as perspectivas de futuro. Não digo nada de novo. Mas já pensou no número de pessoas que a sua empresa tem e que estão rigorosamente "encostadas", desaproveitadas e desmotivadas ? Tem noção que está a pagar salários a pessoas que "estão a contar carneirinhos", apenas porque lhes são negadas oportunidades por mesquinhos interesses e jogos de poder? Tem conhecimento destas situações ? Já mediu o valor que a sua empresa perde ? Senão o fez e se tem responsabilidades de gestão seria interessante fazê-lo, não ? Certamente chegará à conclusão que o custo de oportunidade é muito elevado. E, portanto, mudanças têm que ser promovidas no modelo de gestão organizacional e sobretudo nas práticas de gestão das pessoas. A título ilustrativo saliento um estudo desenvolvido por uma equipa sueca, que acompanhou durante uma década mais de três mil trabalhadores homens (dos 18 aos 70 anos), e conclui que o efeito de "chefes incompetentes, irascíveis e injustos" sobre os subordinados é muito negativo, podendo mesmo revelar-se mortal.

Ao mesmo tempo ouvimos também várias noticias de despedimentos ou reformas antecipadas, o que em muitos casos é inevitável, mas já pensou que os chamados "trabalhadores seniores" podem aumentar em muito o valor da sua empresa ?

Obviamente que terão que ter uma situação laboral ajustada às suas necessidades e mais flexível. O que está a fazer a este nível ? Numa época em que está na moda sugerir corte de custos e despedimentos, eu digo corte nos desperdícios sim, mas invista nas pessoas. Incentive a gestão do talento e prove verdadeiramente que os seus recursos humanos são a vantagem competitiva da sua empresa. Não chega dizer que aposta nas pessoas, que os seus colaboradores são o recurso estratégico mais importante, é necessário que a gestão de talentos esteja instituída na sua empresa e que seja incorporada num sistema de incentivos e objectivos. Que seja incorporada no próprio modelo de negócio. Que faça parte da cultura da empresa.

Um estudo recente da McKinsey identifica como principais obstáculos a uma boa gestão de talentos a falta de tempo (de elevada qualidade) dedicado ao tema, o défice de encorajamento de trabalho em colaboração construtiva e partilha de recursos, a falta de envolvimento dos gestores no desenvolvimento de competências e na gestão de carreiras dos elementos da equipa e um défice de envolvimento das administrações na implementação de um processo estratégico de gestão de talentos.

Um outro estudo da "Society for Human Resource Management" conclui que 1/3 das empresas não têm sido proactivas na gestão das pessoas. São muito reactivas e adoptam posturas de gestão de recursos humanos burocráticas e administrativas. Isto precisa de mudar! Em tempo de crise é fundamental eleger o talento como prioridade. E a todos os níveis hierárquicos, em especial nas pessoas do ‘front-line'.

Eu diria que o actual sistema de gestão de recursos humanos, implementado na generalidade das empresas portuguesas, precisa de uma revolução. Foi concebido e desenvolvido para outros tempos. O novo tempo requer uma abordagem ajustada aos diferentes públicos internos. Tem que ser feita uma segmentação e deverão ser identificadas as necessidades, comportamentos e perfil dos diferentes grupos funcionais. A dificuldade a meu ver está na escolha do critério de segmentação, que deverá dar origem a grupos de colaboradores (segmentos) mensuráveis, com potencial, heterogéneos e operacionais, ou seja, uma empresa tem que ser capaz de gerar programas eficazes para atrair, fidelizar e atender segmentos diferentes de colaboradores. Assim, este processo de segmentação, que terá que anteceder a implementação de um sistema de gestão de talentos, deverá pôr em relevo as oportunidades de carreira existentes, permitir a definição de prioridades, facilitar a análise do contexto laboral e facilitar o aumento da produtividade dos colaboradores. Crie diferentes propostas de valor internas. Promova o talento. Do que está à espera?


Bruno Valverde Cota, Doutorado em gestão de empresas

in Diário Económico

7.2.09

Mudança

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ...
É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...

Fernando Pessoa

29.10.08

Empresários declaram guerra ao aumento do salário mínimo



Dá-me náuseas agudas quando os sindicatos discutem décimas de percentagem em aumentos, uma vez que única forma para combater este momento, sem atirar trabalhadores qualificados para funções desqualificadas, passa pela formação. E essa tem de ser a questão central da concertação social.

Aos "empresários" que sobrescreveram este manifesto, baseando a sua actividade em mão de obra de baixo custo, só posso manifestar as minhas condolências: As actividades desenvolvidas pela mão de obra desqualificada estarão em breve, como todas outras, a operar na China.
Em resumo, o que está mal não é um aumento de 26 euros no salário mínimo mas sim o modelo de negócio daqueles que não o conseguem suportar.

6.9.08

Compadrio político mata competitividade empresarial


Que o compadrio político é um cancro nas economias é algo empiricamente constatável. E frequentemente noticiado. Mas falta avaliar o seu impacto na gestão e na própria criação de riqueza. Parte dessa lacuna foi, agora, preenchida por uma investigação académica dirigida pelos professores Raj Desai e Anders Olofsgard para o Brookings Institution norte-americano.

A conclusão é arrasadora: o compadrio político é antieconómico. O estudo, intitulado ‘Do politically connected firms undermine their own competitiveness?’, demonstra com base num inquérito, entre 2000 e 2005, a um universo de 10 mil empresas em 40 países, na maioria do chamado mundo em desenvolvimento, que o compadrio político é prejudicial à economia, pois “fomenta a ineficiência, desincentiva a inovação, torna mais míope o planeamento, corrompe a competitividade e distorce a concorrência nos mercados”.


Relação cinzenta

Raj Desai sublinhou-nos que o perfil deste cancro é extensível além do chamado Terceiro Mundo: “Muitos países que são democráticos e mais desenvolvidos do que a maioria da nossa amostra sofrem deste mal. A relação entre democracia e compadrio é cinzenta”. Particularmente agravada em países onde a sociedade civil é fraca, a separação e equilíbrio de poderes é insuficiente ou recente, a justiça é débil, o «lobbying» não é transparente e os grandes grupos económicos e financeiros possuem redes informais de quadros que entram e saem da política, conseguindo um poder de influência desproporcionado. Estas redes de talentos são mais sofisticadas do que as típicas redes familiares e corporativas (por exemplo, altos quadros militares) dos países onde dominam cleptocracias e ditaduras. O estudo refere mesmo que “nos países da OCDE, as firmas com ligações políticas frequentemente representam posições significativas de capitalização de mercado”.


Captura do Estado

A literatura económica popularizou o termo de “captura do Estado” por estes mecanismos de obtenção de favores com valor económico (atribuição de monopólio, tolerância aos cartéis, restrições de mercado a concorrentes, açambarcamento de concursos públicos, subsídios e créditos publicamente garantidos legislados “por medida”, isenções “cirúrgicas”). Os beneficiários deixam o Estado refém de interesses particulares - quer dos políticos como dos empresários ou banqueiros - para obterem rendas ilegítimas actuais ou futuras.

No caso dos políticos de carreira, os benefícios traduzem-se em financiamentos políticos ou favores aos próximos (por exemplo, criação de emprego artificial) e quanto aos que optam pela “mobilidade” entre a cadeira política (que pode ser ministerial, parlamentar ou em agencias de regulação e fiscalização) e o lugar privado beneficiam, em regra, de consultoria, advocacia de negócios ou mesmo lugares cimeiros de administração passado algum tempo.

Raj Desai distingue o compadrio («cronyism», em inglês) da corrupção dos agentes públicos.

in EXPRESSO, Texto de Jorge Nascimento Rodrigues com Ilustração de Paulo Buchinho

20.7.08

"Optimismo e Pessimismo", por Leonel Moura

Ao que parece o País anda pessimista mas o primeiro-ministro continua optimista. Na verdade nem outra coisa seria de esperar dele. Alguém tem de se mostrar positivo e confiante perante tanto anúncio de desgraça. Para promover o pessimismo não falta por cá muita gente, ainda para mais sendo o negativismo uma herança genética lusitana.

Os portugueses são genericamente um povo mais triste que alegre, com uma evidente tendência para a má disposição e a cara zangada. Basta comparar os empregados portugueses mestres em evitar olhares, tratar mal os clientes e servir sandes de queijo com desprezo com os brasileiros que por estes dias enchem de simpatia e boa disposição os nossos cafés e restaurantes. E depois temos o saudosismo, essa forma de comoção lusa tão enraizada que deu literatura e fado. A saudade é um desejo de regresso ao passado, um à procura do tempo perdido, um querer ser qualquer coisa que já não existe, ou seja um dramalhão, pois nunca se consegue viver a mesma experiência duas vezes. Daí este sentimento de desamparo, esta angústia constante que parece afectar a maioria dos portugueses sempre à espera que alguém lhes resolva os problemas e a vida. Há muito de infantil no português comum. Recusa em crescer, enfrentar o mundo, tomar o destino nas próprias mãos, ser independente, fazer, vencer. A derrota é o estado natural dos portugueses, pelo menos dos mais velhos. Fomentada por um destino invariavelmente obscuro, obra do sobrenatural e comércio de multidões de santos e santinhos que para tudo servem e desde logo para eliminar o sentido de responsabilidade, o mérito e a ambição. A desvalorização da capacidade empreendedora do homem português deve-se muito ao papel da Igreja Católica e ao seu catolicismo paternalista, adverso ao talento pessoal e, em boa verdade, adverso à expressão de qualquer manifestação individual singular.

Mas este tempo moderno, onde predomina a televisão, não é isento de promoção do pessimismo. As más notícias são as boas notícias dos média. Dizer mal, que tudo vai mal, que ainda vai ser pior, que a catástrofe é eminente, parece excitar jornalistas, comentadores e sobretudo políticos da oposição. O pessimismo tornou-se no único argumento político do momento. À esquerda porque é da sua natureza. A esquerda dá-se bem com o mal do mundo. Derrotada sistematicamente no pensamento e na acção está hoje reduzida a uma mescla de ideias passadista e boas intenções sem nenhuma proposta concreta. A pobreza é de facto sistémica, própria de um sistema capitalista tão obsoleto quanto esta esquerda, mas não é linear. Basta pensar que quando se exigem subsídios para os agricultores e pescadores portugueses está-se a condenar à extrema miséria os agricultores e pescadores africanos e em geral os do chamado terceiro-mundo.

Já o pessimismo à direita é sobretudo cínico. Porque no momento em que reconquiste o poder passa imediatamente a ferrenho optimista.

A questão não está portanto em se ser optimista ou pessimista mas na capacidade em fazer obra. O meu apoio ao actual governo deriva da sua acção, em particular no domínio do plano tecnológico e no forte investimento que tem sido feito para dotar os portugueses das ferramentas tecnológicas e conhecimentos do século XXI. Só o domínio corrente dessas tecnologias e desses conhecimentos pode contribuir para mudar a sociedade portuguesa. Não apenas no que respeita às capacidades técnicas, mas igualmente quanto aos comportamentos e atitudes. O saber deste novo século dá-se mal com a falta de ambição, com a ausência de criatividade, com a passividade individual. Nesse sentido nem tudo corre mal. As novas gerações estão a evoluir num sentido positivo, são mais exigentes e dinâmicas e, para quem está atento, os sinais são muitos e animadores. Entre tanta coisa já não exportamos só criadas e trolhas, algumas boas ideias portuguesas começam a circular mundo. Para o pequeno país que somos exportamos hoje mais tecnologia e inteligência do que aquela que importamos. Portugal está a mudar, mesmo contra tanto negativismo doentio. E isso é uma boa notícia.

in Jornal de Negócios

13.5.08

"Guru" da economia criativa diz que Portugal tem sido travado por uma "mentalidade antiquada"


O "guru" da economia criativa, Richard Florida, considerou hoje que a "mentalidade" tem sido o um travão ao desenvolvimento deste modelo em Portugal e apontou como principais constrangimentos as barreiras à tolerância e à liberdade de expressão individual.

Richard Florida esteve hoje, em Lisboa, para apresentar as suas noções sobre o desenvolvimento das cidades criativas, identificando os três T`s (Tecnologia, Talento e Tolerância) como factores determinantes para ascender ao "ranking" das mega-regiões: regiões que acolhem actividades económicas em larga escala e geram a maior percentagem de actividade económica e inovações científicas e tecnológicas, a nível mundial.

Dos 191 países do mundo, só existem 40 mega-regiões que impulsionam a economia mundial: representam um quinto da população, dois terços do rendimento económico mundial e mais de 85 por cento da inovação global.

A Grande Lisboa está em 33º lugar na lista encabeçada pela Grande Tóquio, mas poderá ir mais longe, segundo o economista norte-americano.

"A única coisa que vos está a travar é a mentalidade. Portugal tem sido aprisionado por uma mentalidade antiquada", declarou à Lusa, à margem da conferência organizada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) e pela Ordem dos Economistas.

Richard Florida antevê um futuro promissor para Lisboa, que já está em fase de transição e atrai classes criativas, mas salientou que é preciso valorizar mais a tolerância e a liberdade de expressão individual ("self-expression").

Entre as vantagens competitivas, indicou a cultura e a autenticidade e enalteceu o clima e a arquitectura histórica como factores de atracção numa sociedade que tende a favorecer a multi-localização.

"Há pessoas que vivem metade do ano num país e outra metade noutro. Devia ser aproveitada essa capacidade para atrair pessoas em part-time", sublinhou, acrescentando que a capacidade para falar línguas é outra vantagem competitiva.

"Hoje, toda a gente falou em inglês. Isso cria um ambiente propício para a comunicação", disse.

Richard Florida é autor do best-seller "The Rise of the Creative Class"(A ascensão da classe criativa) e lançou recentemente "Who`s Your City" (Quem é a tua cidade)onde sugere que a escolha do lugar onde vivemos pode ser uma decisão tão importante como escolher um parceiro ou um emprego.

O economista advoga o surgimento de uma classe criativa, associada a sectores com grande capacidade de inovação, e associa o desenvolvimento e êxito das cidades à sua capacidade de atrair esta classe emergente.

Tudo se passa numa sociedade em que o crescimento económico já não é sustentado pela criação de postos de trabalho, nem pelo desenvolvimento de "clusters" suportados pela indústria tradicional ou pelas tecnologias de ponta.

"Eu acreditava nestes modelos, mas comecei a repensar as causas do crescimento económico e da regeneração. Quis perceber porque se escolhem determinados locais para viver e trabalhar", contou.

O investigador defendeu que atravessamos uma transição para uma nova economia e sistema social caracterizados não pelos factores físicos de produção, mas por factores mentais.

"Na economia pós-industrial, o principal contributo são as ideias, o trabalho mental. O impulso humano para criar é a chave para a inovação económica", afirmou.

O desenvolvimento deste modelo requer, no entanto, cidades que promovam a tolerância, a diversidade, a abertura e a inclusão.


Richard Florida acredita que as características das comunidades que as tornam mais competitivas e prósperas são a capacidade de liderança tecnológica, de gerar talento e a ausência de barreiras à entrada de pessoas.

"As comunidades onde se encontram mais gays e lésbicas e mais boémios são lugares onde se concentram muitas pessoas criativas, porque são lugares onde as pessoas podem ser elas próprias, podem auto-exprimir-se", exemplificou.

O especialista salientou que o lugar onde se vive é tão importante para a felicidade das pessoas como a realização profissional ou sentimental e destacou alguns factores que fazem a diferença como a abertura à diversidade, a qualidade dos espaços (arquitectónica, ambiental, paisagística, estética), a liderança, as oportunidades e boas condições básicas (segurança, infra-estruturas, equipamentos, etc.).

"Os lugares de qualidade estimulam a economia criativa", sintetizou.

in RTP, RCR.

2.1.08

Bem vindo ANO 2008!

Bem vindo ANO 2008!
Bom ANO 2008 para o 4R!

Feliz ANO 2008 para Todos os que fazem do 4R um lugar que apetece viver!
O primeiro Dia de um Ano Novo é sempre um dia especial. É um Dia de cores diferentes que nos lança para mais uma viagem da vida em que todos desejamos a todos que aconteçam coisas boas, muitas alegrais e boas surpresas, os maiores sucessos pessoais e profissionais, em que fazemos votos que todos os desejos e os sonhos se concretizem, que aconteça o que há de melhor e em que esperamos que haja paz, saúde e felicidade.
Neste momento do Ano alimentamos uma vontade especial que as nossas vidas, das nossas famílias e dos nossos amigos sejam muito felizes e sentimos uma força particular de que podemos fazer mais e melhor para que assim seja.
Da chuva de mensagens de votos de recebi nesta Quadra, gostei especialmente de um pensamento que, para mim, espelha de forma sublime o que podemos e devemos ser para que não sejamos o que não devemos ser. É um poema sempre intemporal, mas que assenta bem neste Dia que se quer levezinho, sem dramatismos mas com os "pés bem assentes na terra". Aqui fica o poema "DEFICIÊNCIA" de Mário Quintana, considerado um dos maiores poetas brasileiros do século xx:
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"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. "Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: A amizade é um amor que nunca morre.

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in 4R - República, Margarida Corrêa de Aguiar