"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

11.11.13

Beira Sensual

Conheci na Beira Interior alguns produtos alimentares que fazem as delícias das papilas gustativas.
A nossa castanha, o azeite e os queijos serranos são um cartão de visita da nossa região.

Quando comparo a apresentação destes produtos com os seus concorrentes internacionais, verifico que não cuidamos da nossa imagem. São muito bons, mas não transmitem sedução ao cliente. E isso conduz-me a uma reflexão maior: valorizamos na nossa identidade as diversas batalhas que por aqui passaram em detrimento das bonitas histórias de amor que aqui se viveram.

Estamos no Outono e o nosso chão carrega-se das cores mais bonitas da natureza, usadas em todo o mundo na decoração de interiores. E nós não vendemos esse património. Limitamo-nos a valorizar “outras coisas”, como o património construído que polvilha a nossa região, paredes meias com prédios e marquises descaraterizantes.

Um casal enamorado da cidade terá dificuldade em lembrar-se das Casas do Côro ou das Casas da Lapa, para viver dias de amor.
Mas as regiões serranas de Itália, da Suíça ou mesmo da Irlanda, transmitirão a imagem sedutora que o enamorado casal pretende vivenciar por estes dias.

Acredito que este fenómeno esteja associado ao passado desta região, onde o frio inundava as casas, e assumia-se como inimigo dos beirões.

E isso marcou-nos na capacidade de sonhar e seduzir.

Vivemos tempos loucos. Sabemos agora que o futuro será o que fizermos dele. E se tivermos a utopia de imaginar uma Beira Sensual, correremos o risco de deixarmos aos nossos filhos uma região que todos querem visitar.

in O Interior

3.10.13

Reino Unido em estado de choque com os resultados eleitorais no Distrito da Guarda


Passavam poucos minutos das 21:00 horas da noite eleitoral, e já estavam os empresários ingleses a contactar as empresas do distrito, para compreenderem as consequências destes resultados eleitorais no mercado europeu das conservas de fruta.

O Reino Unido, principal player europeu deste sector, encontrou nas propostas políticas da região, que foram sufragadas no passado Domingo, estratégias de actuação em rede no sector da transformação alimentar, para o mercado internacional.

É facil compreender que as Compotas da Ti’Alzira não façam qualquer sombra à potente indústria inglesa. Mas o mesmo não se poderá dizer de uma acção concertada para o mercado externo entre as 200 unidades empresariais do Distrito.

Se o leitor teve a paciência (ou a boa disposição) para ler este texto até aqui, por certo compreendeu a animação que me assiste.

As politicas de um território devem ser definidas pelos eleitos, porque beneficiam de legitimidade democrática, em acordo com os empresários e os centros de saber desse território. Isto é, só faz sentido que as politicas aplicadas a um território sejam uma resposta eficaz ao crescimento sustentável das suas empresas, porque serão estas que terão a capacidade de gerar novos postos de trabalho em resultado do seu sucesso.

Na minha perspectiva, é esta REDE que falta às nossas empresas, para poderem ser vencedoras no competitivo mercado externo.

E é por falta dessas políticas, que os empresários ingleses do sector da transformação alimentar, não perderam um segundo da sua telenovela para observar as eleições autárquicas em Portugal.

A nossa desorganização será a sua apólice de seguro para o seu sossego económico.

22.2.13

Quebrar o Gelo!


Cheguei a Trancoso em 2005.
Os meus filhos têm parcas memórias do tempo de Lisboa, sua terra natal.
Encantei-me com a qualidade do ar, com as paisagens e com o calor dos humildes.
Um dos meus filhos sofria de problemas respiratórios graves até à data da nossa migração. Nunca mais teve problemas!

A falta de trabalho da região não me afectou. Continuei a trabalhar para as mesmas empresas. Mas agora à distância.

Adaptei-me a quase tudo. Menos ao caciquismo.
As pessoas têm medo do lider que elegem. E por sua vez, o lider aproveita-se disso.

Foi no semanário “O Interior” que encontrei as primeiras vozes contra-corrente. Pessoas que não engavetam as suas opiniões.
E para quem não sabe, a diversidade é mais importante para o desenvolvimento de um território que os fundos estruturais nas mãos erradas.

Os consensos musculados são os melhores promotores de miséria social.
O tempo da Ditadura está na história para o provar.

Para mim, O Interior foi um facilitador da minha integração. Foi o quebra-gelo de um território isolado mas sem orgulho.

Aprender a viver com a diversidade é o desafio para a nossa região. Respeitar quem pensa diferente.

Felicito O Interior pelo seu 13º aniversário.


in O INTERIOR

13.2.13

Raia à Vista!

António Plácido Santos, conhecido empresário trancosense, manifestou indignação na sua página do Facebook com conduta da Associação Raia Histórica, entidade gestora de fundos comunitários na nossa região.

Justifica tal indignação com a insistente impossíbilidade da “Casa da Prisca” em utilizar os canais financiados por tal organismo para a distribuição dos seus produtos.

Informa no mesmo texto que irá dar conta de situações irregulares à Senhora Ministra da Agricultura e à Gestora do Proder.

Em comentário a este texto, Júlio Sarmento, Presidente do Conselho de Administração da Raia Histórica, vem contestar a acusação, lembrando que aquela instituição tem apoiado diversos projectos da família Plácido Santos, e que nesta fase de implementação da rede de lojas, não é suposto integrarem industriais da região.

José Amaral da Veiga, profissional liberal e membro da Concelhia do Partido Socialista, vem apoiar a indignação do empresário, denunciando que tem tomado conhecimento de diversas denúncias sobre as contratações de serviços daquela entidade, bem como sobre a utilização abusiva das suas viaturas.

Em resposta, o autarca Júlio Sarmento vem repudiar a atitude “daqueles que não criam um posto de trabalho” e assume aqui a propriedade de dois investimentos locais. A saber: o centro de inspecções e o hotel.
Com esta revelação, junta-se ao estimado grupo de políticos lusos com ambição tardia para os negócios.
Aproveita ainda o seu comentário para sugerir uma candidatura aos fundos europeus a outro empreendedor insatisfeito, recomendando o contacto directo, em detrimento dos serviços competentes daquela associação.

Ciclicamente, a Raia Histórica é alvo de suspeitas sobre os critérios de atribuição dos fundos comunitários.

Esta situação é insustentável. Porque coloca em causa os critérios de gestão do Proder na região e porque atenta ao bom nome dos administradores e colaboradores da instituição.

Creio que estas criticas não podem ficar sem resposta, sob pena de se considerar como verdade que existem critérios discriminatórios na utilização dinheiros europeus.

Citando o filósofo Agostinho da Silva, “Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno."

Crónica de Frederico Lucas para a Rádio Altitude