"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

21.11.09

Economia DNS**: Um novo modelo de competitividade territorial

Já lhe chamaram “Nova Economia” e os economistas não gostaram!

Concordemos que dizia muito pouco sobre esta era da “revolução digital”.

A actividade económica corre hoje em bits. Os serviços desmaterializaram-se e cada um de nós contribui directamente para essa massa informativa.

O contacto passou a operar-se por mail, e isso possibilita que os trabalhadores possam desenvolver a sua actividade a partir do ponto que mais lhes convier.

A substituição dos Edifícios-Sede em endereços WEB veio decompor e desmaterializar as organizações.

Nenhum de nós saberá localizar geograficamente o Plano Tecnológico, a Nespresso ou a Brother mas o endereço web ocorre-nos instantaneamente se delas necessitarmos.

Este processo traz uma renovada competitividade aos territórios que reúnem melhores condições de vida, permitindo a estes um reposicionamento estratégico para a angariação de empreendedores e de recursos humanos qualificados. É uma realidade para o qual o marketing territorial não estava desperto devido ao foco na temática do turismo.

A atractividade de um território deve sem dúvida ser capitalizada, mas a aposta numa actividade sazonal, extremamente exigente em termos de organização do produto, tem apresentado resultados pouco entusiasmantes. Ao invés, os territórios de baixa densidade possuem o potencial ideal para competir no distinto mercado do trabalho global: Investindo em tecnologias da comunicação de excelência podem cativar novos residentes, isto é, uma aposta na sustentabilidade dos territórios.

O perfil das famílias dispostas a migrarem para territórios de baixa densidade são altamente desejáveis. Pelos hábitos de consumo, pelas dinâmicas e ritmos de desempenho profissional, pela cultura de cidadania.

A economia evolui a grande velocidade. Só há uma forma de a acompanhar, é sermos actores desta economia cada vez mais colaborativa.

A internet passa a concentrar as transacções que permitem o desenvolvimento das empresas: troca de ideias, serviços, fornecedores, clientes e pagamentos.

O posicionamento dos territórios de baixa densidade face à oportunidade de repovoamento será crucial: é possível querer mais do que turismo, é possível captar novos residentes e inverter um ciclo de despovoamento que só não afecta as grandes cidades. Este é um cenário emergente. Apenas para territórios mobilizados.


Por: Frederico Lucas *

*co-autor do projecto Novos Povoadores

** Domain Name Server

in O Interior

3.11.09

Sinais exteriores de corrupção

Olhe para o seu pulso esquerdo: está lá um Rolex? É verdadeiro? Recebeu-o de presente? Se respondeu sim a estas perguntas, trema: a sua face pode deixar de estar oculta.

O caso não cessa de surpreender. Há cada vez mais empresas envolvidas na "teia tentacular" de Manuel Godinho, sempre com o padrão de ligação ao Estado.

Sucata há em todo o lado, mas ainda não se ouviu falar de esquemas em grandes multinacionais ou indústrias privadas. O que terão as empresas do Estado de tão propício ou de tão vulnerável que as torna alvo de esquemas de corrupção ao mais baixo nível?

A pergunta é inquietante. Até ver, os conselhos de administração não são autores das falcatruas, são apenas cegos para elas. Mas por que razão é maior a cegueira nas empresas do Estado do que nas outras? E se é verdade, como tudo leva a crer, que a cegueira dos administradores é involuntária, por que razão quis Godinho afastar administradores (nomeadamente da Refer) e governantes que lhe dificultavam o acesso aos concursos? O que sabiam eles que os levava a desconfiar de Godinho? Porque foram impotentes para o travar? Um presidente sem poder para fechar uma porta a alguém tem poder algum? Insisto: os portugueses têm de saber porque grassa a corrupção nas suas empresas.

Até a explicação mais inócua não é inocente. Nas empresas públicas falta o controlo, a sindicância, a auditoria. Provavelmente, porque as pequenas máfias estão há muito instaladas e ramificaram-se de tal modo que a própria hierarquia da empresa se montou nela como numa rede debaixo do trapézio: se a rede fura, muita gente se estatela no chão. E o presidente torna-se o corno da história: o último a saber do amante.

As suspeitas que estão nos autos e mandados, a que o Negócios teve acesso, são tenebrosas. Anda meio mundo a prostituir-se com pins de grandes empresas na lapela. Cada velhaco tem o seu preço: um Rolex, um computador, um Mercedes ou a conta mensal do telemóvel. E por aí andam, nariz no ar, a fazer pela vidinha, intrujando a empresa e arrastando o nome dos colegas, chefes e chefiados para a lama onde rebolam como os porcos de Orwell: de cartola e relógio de pulso.

As regras existem mas ou não são sérias ou não são levadas a sério. O Governo institui um código do governo de sociedades para o Sector Empresarial do Estado, que ignora o tema das prendas porque foi a reboque dos assuntos da moda, como as remunerações dos gestores. Mesmo assim, quase nenhuma empresa do Estado cumpre todos os requisitos na divulgação de informação.

Mais: se Godinho é suspeito de crimes fiscais desde 2007, por que razão as empresas do Estado não o baniram da lista de fornecedores? A idoneidade não é critério?

Finalmente: o que diz o código de ética da REN, cujo presidente José Penedos foi ontem constituído arguido e que recebeu presentes (que garante ter doado a instituições de caridade)? Que "as ofertas recebidas de terceiros devem ser recusadas". Está bem abelha.

José Penedos não tem condições para continuar como presidente da REN, o que se aplica também a Armando Vara no BCP, como aqui já foi escrito. Mas isto é pregar no deserto daqueles para quem a lei é a ética republicana.

Aproxima-se o Natal, época de concórdia, de paz e de corrupção. Oh-oh-oh, venham de lá os sacos e os envelopes: cada prenda distribuída será retribuída. Se não for com amor, arranja-se um favor.


in Negócios, Pedro Santos Guerreiro