"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

3.11.09

Sinais exteriores de corrupção

Olhe para o seu pulso esquerdo: está lá um Rolex? É verdadeiro? Recebeu-o de presente? Se respondeu sim a estas perguntas, trema: a sua face pode deixar de estar oculta.

O caso não cessa de surpreender. Há cada vez mais empresas envolvidas na "teia tentacular" de Manuel Godinho, sempre com o padrão de ligação ao Estado.

Sucata há em todo o lado, mas ainda não se ouviu falar de esquemas em grandes multinacionais ou indústrias privadas. O que terão as empresas do Estado de tão propício ou de tão vulnerável que as torna alvo de esquemas de corrupção ao mais baixo nível?

A pergunta é inquietante. Até ver, os conselhos de administração não são autores das falcatruas, são apenas cegos para elas. Mas por que razão é maior a cegueira nas empresas do Estado do que nas outras? E se é verdade, como tudo leva a crer, que a cegueira dos administradores é involuntária, por que razão quis Godinho afastar administradores (nomeadamente da Refer) e governantes que lhe dificultavam o acesso aos concursos? O que sabiam eles que os levava a desconfiar de Godinho? Porque foram impotentes para o travar? Um presidente sem poder para fechar uma porta a alguém tem poder algum? Insisto: os portugueses têm de saber porque grassa a corrupção nas suas empresas.

Até a explicação mais inócua não é inocente. Nas empresas públicas falta o controlo, a sindicância, a auditoria. Provavelmente, porque as pequenas máfias estão há muito instaladas e ramificaram-se de tal modo que a própria hierarquia da empresa se montou nela como numa rede debaixo do trapézio: se a rede fura, muita gente se estatela no chão. E o presidente torna-se o corno da história: o último a saber do amante.

As suspeitas que estão nos autos e mandados, a que o Negócios teve acesso, são tenebrosas. Anda meio mundo a prostituir-se com pins de grandes empresas na lapela. Cada velhaco tem o seu preço: um Rolex, um computador, um Mercedes ou a conta mensal do telemóvel. E por aí andam, nariz no ar, a fazer pela vidinha, intrujando a empresa e arrastando o nome dos colegas, chefes e chefiados para a lama onde rebolam como os porcos de Orwell: de cartola e relógio de pulso.

As regras existem mas ou não são sérias ou não são levadas a sério. O Governo institui um código do governo de sociedades para o Sector Empresarial do Estado, que ignora o tema das prendas porque foi a reboque dos assuntos da moda, como as remunerações dos gestores. Mesmo assim, quase nenhuma empresa do Estado cumpre todos os requisitos na divulgação de informação.

Mais: se Godinho é suspeito de crimes fiscais desde 2007, por que razão as empresas do Estado não o baniram da lista de fornecedores? A idoneidade não é critério?

Finalmente: o que diz o código de ética da REN, cujo presidente José Penedos foi ontem constituído arguido e que recebeu presentes (que garante ter doado a instituições de caridade)? Que "as ofertas recebidas de terceiros devem ser recusadas". Está bem abelha.

José Penedos não tem condições para continuar como presidente da REN, o que se aplica também a Armando Vara no BCP, como aqui já foi escrito. Mas isto é pregar no deserto daqueles para quem a lei é a ética republicana.

Aproxima-se o Natal, época de concórdia, de paz e de corrupção. Oh-oh-oh, venham de lá os sacos e os envelopes: cada prenda distribuída será retribuída. Se não for com amor, arranja-se um favor.


in Negócios, Pedro Santos Guerreiro

2 comentários:

beirão disse...

É preciso dar o nome às coisas...! Um bom artigo.
Vale a pena envergonhar os vermes mesmo que eles não tenham vergonha. É preciso que sintam a nossa vergonha e indignação por eles.
O caminho é longo e difícil, mas devemos continuar do lado certo e apertar o cerco.

Anónimo disse...

Nada tem a ver com o post, mas tenho um assunto que não me sai da cabeça.
Será que se constroiem piscinas só para se gastar dinheiro?
É que a nossa juventude não fica com metas tambem nesa área, pois não temos nenhum Clube a fazer competição.
Será só para aprenderem a contar os azulejos? Ou tambem podem ter por meta a competição?
É que agora noutras localidades está a juventude a aderir em força nessa modalidade que até dizem que é a mais completa.
O meu filho gostava e até podia acontecer que o resto do grupo tambem.