"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

19.8.08

Obrigado, Obikwelu.



Sobre este atleta, já sabia que era integro.
Mas estava longe de imaginar que seria ele a ensinar os portugueses a terem respeito pelas contribuições fiscais.

26.7.08

De Braga para o mundo do software

Como Carlos Oliveira, em oito anos, salta do banco da universidade, cria a MobiComp e a vende à Microsoft

O negócio da compra da MobiComp pela Microsoft foi decidido há um mês mas faltavam acertar detalhes. Esta semana ficou tudo preto no branco e foi assinado o acordo. Em definitivo, a cidade de Braga passou a fazer parte do mapa dos centros de inovação da maior empresa de software do mundo.

Curiosamente, o namoro que culminou neste casamento com final feliz foi muito rápido.

Os primeiros contactos informais surgiram em Outubro num evento internacional. Ainda em 2007 houve uma conferência telefónica exploratória com Seattle (sede da Microsoft). Em Janeiro deste ano, uma equipa da multinacional deslocou-se a Braga. Os contactos prosseguiram em Fevereiro durante o certame 3GSM World em Barcelona. Carlos Oliveira, presidente da MobiComp, desloca-se depois à sede da Microsoft para concretizar um acordo de licenciamento de tecnologia. Finalmente, em Abril, a empresa fundada por Bill Gates dá um passo em frente e comunica o interesse em adquirir a MobiComp. “Nunca estivemos à venda, embora tivéssemos tido abordagens de empresas de menor dimensão”, esclarece Carlos Oliveira.

Mas como foi possível a uma empresa portuguesa com apenas 8 anos e liderada por um jovem de 31 anos concretizar um negócio inédito em Portugal?

A ideia de criar a MobiComp surge em finais de 1999, quando Carlos Oliveira estava a concluir a licenciatura de engenharia informática na Universidade do Minho. Tudo começou em conversas de café com António Murta (actual vice-presidente da Wipro), Gastão Taveira (presidente da Altitude Software) e António Ribeiro (professor universitário) que sentiram confiança na capacidade empreendedora de Carlos Oliveira. A ideia era criar tecnologia que pudesse jogar na ‘primeira liga’ a nível internacional.

“Desde o início que apostámos em ser os melhores em mobilidade, na inovação, dar valor acrescentado aos clientes e na internacionalização”, recorda Carlos Oliveira. Como a empresa não tinha capital de risco para despender tempo a criar um produto, apostou em arquitecturas que permitissem criar soluções móveis inovadoras. O primeiro passo decisivo foi dado quando, quatro meses depois da fundação, conquistou os primeiros clientes (TMN e Lusomundo) batendo consultoras nacionais e estrangeiras. Nessa altura ganhou o prémio ‘empresa inovadora’ da ANETIE e tornou-se num caso de estudo pela IBM. Seguem-se outros clientes de referência como o BCP e o BPI.

Em 2005, inicia a expansão nos mercado externo (Estados Unidos, Noruega e Arábia Saudita). No início deste ano tinha fechado contratos com operadores do Médio-Oriente para a venda do sistema Mobilekeeper de protecção de dados móveis.

A partir de agora, dentro do universo da Microsoft, Carlos Oliveira tem a ambição de “criar em Portugal um centro de inovação para a área das comunicações móveis de nível internacional”.

in Expresso, João Ramos

20.7.08

"Optimismo e Pessimismo", por Leonel Moura

Ao que parece o País anda pessimista mas o primeiro-ministro continua optimista. Na verdade nem outra coisa seria de esperar dele. Alguém tem de se mostrar positivo e confiante perante tanto anúncio de desgraça. Para promover o pessimismo não falta por cá muita gente, ainda para mais sendo o negativismo uma herança genética lusitana.

Os portugueses são genericamente um povo mais triste que alegre, com uma evidente tendência para a má disposição e a cara zangada. Basta comparar os empregados portugueses mestres em evitar olhares, tratar mal os clientes e servir sandes de queijo com desprezo com os brasileiros que por estes dias enchem de simpatia e boa disposição os nossos cafés e restaurantes. E depois temos o saudosismo, essa forma de comoção lusa tão enraizada que deu literatura e fado. A saudade é um desejo de regresso ao passado, um à procura do tempo perdido, um querer ser qualquer coisa que já não existe, ou seja um dramalhão, pois nunca se consegue viver a mesma experiência duas vezes. Daí este sentimento de desamparo, esta angústia constante que parece afectar a maioria dos portugueses sempre à espera que alguém lhes resolva os problemas e a vida. Há muito de infantil no português comum. Recusa em crescer, enfrentar o mundo, tomar o destino nas próprias mãos, ser independente, fazer, vencer. A derrota é o estado natural dos portugueses, pelo menos dos mais velhos. Fomentada por um destino invariavelmente obscuro, obra do sobrenatural e comércio de multidões de santos e santinhos que para tudo servem e desde logo para eliminar o sentido de responsabilidade, o mérito e a ambição. A desvalorização da capacidade empreendedora do homem português deve-se muito ao papel da Igreja Católica e ao seu catolicismo paternalista, adverso ao talento pessoal e, em boa verdade, adverso à expressão de qualquer manifestação individual singular.

Mas este tempo moderno, onde predomina a televisão, não é isento de promoção do pessimismo. As más notícias são as boas notícias dos média. Dizer mal, que tudo vai mal, que ainda vai ser pior, que a catástrofe é eminente, parece excitar jornalistas, comentadores e sobretudo políticos da oposição. O pessimismo tornou-se no único argumento político do momento. À esquerda porque é da sua natureza. A esquerda dá-se bem com o mal do mundo. Derrotada sistematicamente no pensamento e na acção está hoje reduzida a uma mescla de ideias passadista e boas intenções sem nenhuma proposta concreta. A pobreza é de facto sistémica, própria de um sistema capitalista tão obsoleto quanto esta esquerda, mas não é linear. Basta pensar que quando se exigem subsídios para os agricultores e pescadores portugueses está-se a condenar à extrema miséria os agricultores e pescadores africanos e em geral os do chamado terceiro-mundo.

Já o pessimismo à direita é sobretudo cínico. Porque no momento em que reconquiste o poder passa imediatamente a ferrenho optimista.

A questão não está portanto em se ser optimista ou pessimista mas na capacidade em fazer obra. O meu apoio ao actual governo deriva da sua acção, em particular no domínio do plano tecnológico e no forte investimento que tem sido feito para dotar os portugueses das ferramentas tecnológicas e conhecimentos do século XXI. Só o domínio corrente dessas tecnologias e desses conhecimentos pode contribuir para mudar a sociedade portuguesa. Não apenas no que respeita às capacidades técnicas, mas igualmente quanto aos comportamentos e atitudes. O saber deste novo século dá-se mal com a falta de ambição, com a ausência de criatividade, com a passividade individual. Nesse sentido nem tudo corre mal. As novas gerações estão a evoluir num sentido positivo, são mais exigentes e dinâmicas e, para quem está atento, os sinais são muitos e animadores. Entre tanta coisa já não exportamos só criadas e trolhas, algumas boas ideias portuguesas começam a circular mundo. Para o pequeno país que somos exportamos hoje mais tecnologia e inteligência do que aquela que importamos. Portugal está a mudar, mesmo contra tanto negativismo doentio. E isso é uma boa notícia.

in Jornal de Negócios

17.7.08

Empresas: Competitividade transmontana está nos nichos e não nos grandes investimentos

Bragança, 16 Jul (Lusa) - O IAPMEI apelou hoje aos empresários transmontanos para aproveitarem os apoios disponíveis para explorar as potencialidades locais como as energias renováveis, apontadas como a oportunidade do momento para as empresas desta região se tornarem competitivas.
"No momento, a oportunidade não é para grandes investimentos, mas está na exploração de nichos, pequenas iniciativas que sejam tanto ou mais úteis do que as grandes", defendeu hoje em Bragança João Neves, vogal do Conselho Directivo do IAPMEI, o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas.

O instituto disponibilizou-se para ser parceiro na definição de uma estratégia que começou hoje, em Bragança, na primeira sessão de trabalho com empresas do Alto de Trás-os-Montes, no âmbito da iniciativa "Encontros para a Competitividade".

Numa região com um fraco tecido empresarial, constituído essencialmente por pequenas empresas, João Neves entende que "no momento actual, as oportunidades residem na diversidade".

"Procurar encontrar em cada região os factores que a diferenciam das outras. Trás-os-Montes tem muitos, até tem mais do que às vezes as pessoas que aqui vivem todos os dias julgam que tem", considerou.

Segundo aquele responsável, "é possível encontrar em factores locais possibilidades que do outro lado do mundo podem ser muito valorizadas".

"Factores novos" que na opinião de João Neves têm a ver que com produtos agrícolas, nomeadamente os produtos regionais certificados, com a indústria extractiva, em que se incluem as pedreiras, ou com as energias renováveis como a eólica, entre outras.

Com uma procura cada vez maior por aquilo que é diferente, o vogal do conselho directivo do IAPMEI entende que a competitividade das empresas transmontanas "está nestes nichos, que permitem fazer a diferença e afirmação destas empresas".

João Neves afirmou também ser necessária, por parte dos empresários, iniciativa e alguns dos apoios existentes, nomeadamente uma linha de crédito de 750 milhões de euros que vai ser lançada para as pequenas e médias empresas.

Considerou, porém, que os apoios financeiros "são úteis mas não bastam".

Parcerias e cooperação são a estratégia, também defendida por Rui Vaz, o presidente da Associação Empresarial do Distrito de Bragança, o Nerba.

"Temos de nos habituar a este conceito: cooperar, senão não vamos a lado nenhum", afirmou, defendendo mais cooperação com a vizinha Espanha e parcerias nacionais.

HFI.
in RTP

7.7.08

10 de Junho: O testemunho de Fernando Ferreira



Fernando Ferreira, um empresário homenageado pelo seu desempenho na economia Australiana, foi um empresário incompetente em Portugal.
Neste vídeo explica as diferenças entre as economias e os entraves no caso português.

O que podemos mudar em Portugal para que os "Fernandos Ferreiras" revelem o seu real potencial a favor dos seus projectos e da economia portuguesa?

15.6.08

Construir o desenvolvimento

Há uns anos havia na região de Sevilha um conjunto de cerca de 140 empresas de torneiros mecânicos. Houve alguém que disse: vou orientá-los.
Falou com eles e perguntou: quem quer ter formação e passar a fabricar aquilo que eu disser que é necessário? Todos aceitaram.

Pouco a pouco as fábricas que faziam parafusos passaram a fabricar porcas com especificações rigorosas; outras que faziam torneiras, passaram a fabricar tubos também com especificações rigorosas. E todos juntos, passaram a fabricar um avião.

Hoje o Parque Aeronautico Aeropolis de Sevilha é um dos três pontos de fabricação do Consórcio EADS (vulgo Consórcio Airbus) e exactamente aquele de onde o avião sai a voar.

in TheStarTracker, José António Silva e Sousa

1.6.08

O que eu quero ser quando for grande


Carlos Tê / Rui Veloso

Andava eu na quarta classe e fiz uma redacção
Sobre o que eu queria ser um dia quando crescesse

Quero ser um marinheiro, sulcar o azul do mar
Vaguear de porto em porto até um dia me cansar
Quero ser um saltimbanco, saber truques e cantigas
Ser um dos que sobe ao palco e encanta as raparigas

A setôra chamou-me ao palco e deixou-me descomposto
Ó menino atolombado, que gracinha de mau gosto
Lá fiz outra redacção, quero ser um funcionário
Ser zeloso ter patrão, deitar cedo e ter horário
Ser um barquinho apagado sem prazer em navegar
Humilde e bem comportado sem fazer ondas no mar

A setôra bateu palmas e deu-me muitos louvores
Apontou-me como exemplo e passou-me com quinze valores

13.5.08

"Guru" da economia criativa diz que Portugal tem sido travado por uma "mentalidade antiquada"


O "guru" da economia criativa, Richard Florida, considerou hoje que a "mentalidade" tem sido o um travão ao desenvolvimento deste modelo em Portugal e apontou como principais constrangimentos as barreiras à tolerância e à liberdade de expressão individual.

Richard Florida esteve hoje, em Lisboa, para apresentar as suas noções sobre o desenvolvimento das cidades criativas, identificando os três T`s (Tecnologia, Talento e Tolerância) como factores determinantes para ascender ao "ranking" das mega-regiões: regiões que acolhem actividades económicas em larga escala e geram a maior percentagem de actividade económica e inovações científicas e tecnológicas, a nível mundial.

Dos 191 países do mundo, só existem 40 mega-regiões que impulsionam a economia mundial: representam um quinto da população, dois terços do rendimento económico mundial e mais de 85 por cento da inovação global.

A Grande Lisboa está em 33º lugar na lista encabeçada pela Grande Tóquio, mas poderá ir mais longe, segundo o economista norte-americano.

"A única coisa que vos está a travar é a mentalidade. Portugal tem sido aprisionado por uma mentalidade antiquada", declarou à Lusa, à margem da conferência organizada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT) e pela Ordem dos Economistas.

Richard Florida antevê um futuro promissor para Lisboa, que já está em fase de transição e atrai classes criativas, mas salientou que é preciso valorizar mais a tolerância e a liberdade de expressão individual ("self-expression").

Entre as vantagens competitivas, indicou a cultura e a autenticidade e enalteceu o clima e a arquitectura histórica como factores de atracção numa sociedade que tende a favorecer a multi-localização.

"Há pessoas que vivem metade do ano num país e outra metade noutro. Devia ser aproveitada essa capacidade para atrair pessoas em part-time", sublinhou, acrescentando que a capacidade para falar línguas é outra vantagem competitiva.

"Hoje, toda a gente falou em inglês. Isso cria um ambiente propício para a comunicação", disse.

Richard Florida é autor do best-seller "The Rise of the Creative Class"(A ascensão da classe criativa) e lançou recentemente "Who`s Your City" (Quem é a tua cidade)onde sugere que a escolha do lugar onde vivemos pode ser uma decisão tão importante como escolher um parceiro ou um emprego.

O economista advoga o surgimento de uma classe criativa, associada a sectores com grande capacidade de inovação, e associa o desenvolvimento e êxito das cidades à sua capacidade de atrair esta classe emergente.

Tudo se passa numa sociedade em que o crescimento económico já não é sustentado pela criação de postos de trabalho, nem pelo desenvolvimento de "clusters" suportados pela indústria tradicional ou pelas tecnologias de ponta.

"Eu acreditava nestes modelos, mas comecei a repensar as causas do crescimento económico e da regeneração. Quis perceber porque se escolhem determinados locais para viver e trabalhar", contou.

O investigador defendeu que atravessamos uma transição para uma nova economia e sistema social caracterizados não pelos factores físicos de produção, mas por factores mentais.

"Na economia pós-industrial, o principal contributo são as ideias, o trabalho mental. O impulso humano para criar é a chave para a inovação económica", afirmou.

O desenvolvimento deste modelo requer, no entanto, cidades que promovam a tolerância, a diversidade, a abertura e a inclusão.


Richard Florida acredita que as características das comunidades que as tornam mais competitivas e prósperas são a capacidade de liderança tecnológica, de gerar talento e a ausência de barreiras à entrada de pessoas.

"As comunidades onde se encontram mais gays e lésbicas e mais boémios são lugares onde se concentram muitas pessoas criativas, porque são lugares onde as pessoas podem ser elas próprias, podem auto-exprimir-se", exemplificou.

O especialista salientou que o lugar onde se vive é tão importante para a felicidade das pessoas como a realização profissional ou sentimental e destacou alguns factores que fazem a diferença como a abertura à diversidade, a qualidade dos espaços (arquitectónica, ambiental, paisagística, estética), a liderança, as oportunidades e boas condições básicas (segurança, infra-estruturas, equipamentos, etc.).

"Os lugares de qualidade estimulam a economia criativa", sintetizou.

in RTP, RCR.

5.5.08

Cultura: Autarquias desperdiçam dinheiro com o amadorismo

Ao intervir, na madrugada de hoje, num debate sobre "os desafios de uma nova política para a Cultura na cidade e região de Aveiro", Carlos Martins, ele próprio ex-autarca com o pelouro da Cultura na Câmara de Santa Maria da Feira, sublinhou a necessidade de maior profissionalismo nas apostas culturais dos municípios e de articulação à escala intermunicipal.

"É necessário ser profissional a fazer as coisas e a Cultura e o Turismo são os sectores onde há mais amadorismo ao nível municipal. Se há áreas nas câmaras onde se gasta mal o dinheiro é na Cultura", disse.

Salientou ainda que "o erro cometido" no aproveitamento dos fundos comunitários não pode ser repetido à luz do novo quadro comunitário de apoio (QREN) porque este impõe uma lógica diferente, que obriga à articulação intermunicipal.

"Via-se para que é que havia financiamento e depois fazia-se em função disso, seguindo um raciocínio muito pouco criativo e foi assim que se gastou muito dinheiro", sustentou o ex-autarca, dando como exemplo a proliferação de centros culturais sobredimensionados.

"Hoje as soluções criativas são muito mais necessárias porque o QREN é diferente e a competição faz-se em função dos melhores projectos, o que obriga a ganhar escala e a abandonar a lógica paroquial, partindo para um nível supramunicipal em que temos pouca experiência", completou.

Carlos Martins realçou ainda que "falar em cidades criativas não é um chavão e tem a ver com a sobrevivência", sendo a competitividade entre as metrópoles marcada pela capacidade de reter talentos.

Susana Sardo, da Universidade de Aveiro, a outra oradora do encontro organizado pelo projecto "Cidades Criativas" e pelo Teatro Aveirense, elegeu a "Cultura antropológica" como o factor que torna as cidades criativas e afirma a sua identidade.

"É preciso construir a cidade a partir de projectos criativos e isso não deve ser deixado a intelectuais e eruditos que detêm o conhecimento, sendo necessário dialogar com as pessoas nos espaços em que estão a trabalhar", disse.

Embora demarcando-se das correntes do Estado Novo e da visão de António Ferro, Susana Sardo enfatizou a importância da identidade dos territórios e de alguma forma recuperou a ideia do "orgulho" na pertença a uma cidade ou região pela sua cultura antropológica que diferencia cada uma na competição territorial.

"A grande aposta tem de ser encontrada no domínio da cultura antropológica, em diálogo com a cultura erudita", disse.

MSO.

Lusa/Fim

in RTP