O castanheiro é uma árvore de folha caduca, que pode atingir mais de mil anos de idade. As folhas têm entre 10 e 20 centímetros, são dentadas, mais claras na parte inferior e translúcidas quando trespassadas pela luz solar. Os seus frutos são as conhecidas e apreciadas castanhas. Aos 8/10 anos, o castanheiro já dá fruto, no entanto, só depois dos 20 é que a frutificação passa a ser um fenómeno regular. A sua produção mantém-se elevada mesmo quando já em idade avançada. Até aos 50 a 60 anos de idade, o seu crescimento é bastante rápido, retardando depois até ao fim da vida. Pode atingir os 45 metros de altura e a sua copa pode chegar aos 30 a 40 metros de diâmetro. Existem dois tipos de castanheiro: o bravo e o manso, consoante a forma de regeneração e o tipo de exploração que se pretende.
A um povoamento de castanheiros mansos, vocacionados para produzir castanhas, dá-se o nome de “souto” e a um povoamento vocacionado para produzir madeira dá-se o nome de “castinçal”. Os entendidos dizem que as variedades portuguesas de castanheiro produzem as melhores castanhas que se conhecem, e são muito consideradas no comércio mundial, nomeadamente em núcleos da emigração portuguesa.
Desde o Paleolítico que o castanheiro acompanha o Homem e tem para ele uma importância crucial. As tribos pré-romanas chamavam-lhe a árvore do pão, já que o seu fruto, a castanha, era um alimento rico e um importante meio de subsistência para os exércitos em campanha. Pode-se mesmo afirmar que foi um dos mais importantes farináceos em muitas regiões, antes da chegada da batata e do milho à Europa. Era utilizada na alimentação dos Homens e dos animais, era um complemento importante na agricultura e, em muitos casos, o pão dos mais desfavorecidos. Desde tempos imemoriais que a castanha é um produto de base na alimentação dos homens e dos animais, sendo confeccionada de todas as formas possíveis crua, cozida, assada, em doces, em sopas, e como guarnição de alguns pratos. Antigamente, quando a produção do ano não era totalmente consumida, a que restava era transformada em “castanha pilada”, seca ao fumo, de forma a poder ser consumida mais tarde. Outro processo de conservar as castanhas é colocá-las em panelas vidradas bem tapadas ou em potes de barro cheios de areia. Existem variedades de castanha com maiores qualidades alimentares e maior valor comercial. É o caso das variedades Judia, Longal e Côta
O castanheiro é frequentemente atingido por pragas. Em Portugal, a situação mais grave é causada pela “doença da tinta”. Esta doença é provocada por um minúsculo fungo, que, segundo alguns autores, terá entrado em Portugal no norte do país em 1838, pelos rios Leça e Ave, alastrando depois a várias regiões. Encontrou as condições ideais para o seu desenvolvimento, tendo causado graves danos nos povoamentos do Minho e Beira Litoral. Mas a sua acção não se ficou pelo norte, alastrando-se pelo país fora até à serra de Monchique. Hoje, nestes locais, mais não existem do que pequenos núcleos sem grande significado. Foram muitas e extensas as áreas que sucumbiram ao nefasto poder da “tinta”, cujo nome se deve à cor negra que a árvore adquire por baixo da casca, quando atacada. Uma das formas de evitar esta doença é criar, em viveiro, clones que sejam resistentes à doença. É o que acontece em França e Itália. Os povoamentos conduzidos em talhadia aparentam ser menos afectados por esta praga. O “cancro do castanheiro”, provocado igualmente por um fungo, surgiu em finais do século XIX e provocou graves prejuizos em povoamentos desta espécie. A segunda espécie mais importante Castanea dentata, com uma presença muito significativa nos Estados Unidos da América, foi praticamente aniquilada por esta praga assoladora que, segundo dados de 1987, terá destruído cerca de 3,6 milhões de hectares de castanheiro americano. Segundo alguns autores, alastrou-se à Europa quando se importou material vegetativo infectado durante a Guerra de 1914/18. Os castanheiros são também frequentemente atacados por um insecto desfolhador vulgarmente conhecido por Portésia, provocando danos acentuados em diversos soutos, localizados nas regiões de Bragança e Vila Real.
Como sabem, na Beira Interior são frequentes as terras cujos nomes estão ligados ao castanheiro. No nosso distrito encontram-se localidades com denominação inerente ao castanheiro: Souto (Sabugal), Monte Soito (Guarda), Castanheira (em Trancoso, em Manteigas, na Guarda e em Gouveia), Souto Maior (Trancoso) e Soito do Bispo (Guarda), são alguns dos lugares onde o castanheiro teve um papel importante. Salientam-se os castanheiros notáveis que permanecem de pé no distrito da Guarda. São autênticos exemplares, com dimensões inacreditáveis, como o de Guilhafonso e o da Arrifana. O primeiro, com idade estimada em 400 anos, tem uma altura de 19 metros, o que lhe permite ser considerado o maior exemplar da Europa que, em 1987, produziu meia tonelada de castanha da variedade Rebordã, conforme refere Sanches Pereira em "O Castanheiro na Beira Interior". Digno de referência é, igualmente, o "Castanheiro Velho", na Arrifana, que possui um tronco considerado o mais grosso de todos os castanheiros existentes no país, com um perímetro de 13 metros e 20 centímetros. Trata-se de uma imponente árvore que deverá ter uma idade de cerca de dois mil anos, atendendo a que o autor Taborda de Morias lhe atribuiu, em 1937, na obra "Árvores Notáveis de Portugal", 1139 anos. Embora diferentes e com dimensões normais, são também únicos os "Castanheiros Gémeos" de Famalicão da Serra, ainda no concelho da Guarda. Trata-se de duas árvores adultas, separadas na base e no cimo do tronco, mas unidas a meio, em consequência de um «processo de enxertia natural de encosto», refere Cameira Serra no seu livro.
Fonte: vários
2 comentários:
Parabens Nuno pelo belo artigo acerca dos castanheiros, sendo uma especie endemica da nossa Beira, pena cada vez haver menos, ha uns 40 anos ainda na minha aldeia havia alguns Soitos, hoje podem contar-se os castanheiros pelos dedos das maos.
Pois é! Passa-se o mesmo na terra dos meus avós, Souto Maior, um dos locais da região onde mais castanheiros havia! Agora, apesar de não serem tão poucos para apenas "caberem" na contagem dos dedos das mãos, são em número bastante reduzido devido às pragas terríveis que os têm atacado nos últimos anos.. É uma pena...mesmo com bastante vontade e trabalho nem sempre é possível controlá-las!
Cumprimentos,
Patrícia Geraldes
Enviar um comentário