"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"
5.2.06
Ernani e o Turismo
Na véspera do colóquio da AENE Beira sobre Comércio Tradicional, venho transcrever o artigo de Sérgio Figueiredo do Jornal de Negócios.
"Ouve-se, há pelo menos meia década, dizer que o modelo económico português está esgotado. Que não é possível competir a partir de baixos salários. Que é preciso subir na cadeia de valor. Que pata-ti-patata... Mas, quando uma empresa têxtil fecha para abrir na Roménia, o pessoal espanta-se de surpresa.
Quando se constata que, dos grandes projectos, da grande indústria, da produção em grande escala, nem um único parou por cá na última década, é como se fosse uma maldição inexplicável.
Não é. Ou melhor, pode ser uma maldição, mas não é nada inexplicável. Nem sequer de imprevisível. Nada do que está a acontecer à nossa economia é surpreendente. Só que quem foi capaz de perceber o «esgotamento do modelo» recusa, agora, aceitar as consequências.
O país, a Europa, afinal, chegou ao fim de uma linha e não adianta ignorar o significado disso. Menos ainda iludir-nos com a conjuntura, dizendo que o pior já passou. É mentira. Mal começou. Aliás, se alguma coisa segura pode ser dita em relação aos próximos anos, é que vai piorar.
A deslocalização industrial para a Ásia vai continuar. O desemprego industrial, no velhinho sector secundário, continuará a subir. Um país não vai à falência. Mas pode empobrecer. É esse processo que está em curso. Para reverter isso, não há outra alternativa: criar riqueza.
É uma verdade de La Palice, mas às vezes parece que ninguém se lembra disso: temos de procurar aquilo em que o país tem possibilidade de gerar valor, criar riqueza, regressar à prosperidade.
É aqui que entra o turismo e Ernâni Lopes.
O economista, porque apresentou ontem o melhor e o mais completo estudo até agora feito sobre este sector. E o sector porque, no estudo do economista, surge como uma dessas apostas, indiscutíveis, fundamentadas, que o país tem de fazer, neste processo de descontinuidade que a economia portuguesa está a sofrer.
O Turismo. O Ambiente. As Cidades e o Desenvolvimento. Serviços de valor acrescentado. E, acrescenta Ernâni Lopes, provavelmente a economia do mar.
«Reinventando o turismo em Portugal» é um calhamaço de 900 e tal páginas, o produto de dois anos de trabalho de uma equipa de três dezenas de pessoas. Não deve ser lido, mas estudado.
Porque foge às banalidades de sempre. Porque coloca o turismo no lugar em que ele deve estar – não um «caso à parte» do sistema, o alfa e o omega do nosso futuro, a resposta a todos os nossos problemas, que, como se sabe é a melhor maneira de não responder a coisa alguma.
Há dois anos, quando me falaram desta intenção da Confederação do Turismo, torci o nariz. Um mega-estudo, com aquela mega-visão do autor, uma mega-missão, para tudo acabar como o socialismo: dentro da gaveta. Se o inferno está cheio de boas intenções, os nossos cemitérios estão repletos de grandes estudos sobre a economia.
Só que «este» está vivo. E «este» dá-nos uma agenda para uma geração. As carpideiras do regime que parem de chorar o que está condenado, aquilo que não depende da nossa vontade: o têxtil que sai, o IDE que não vem. É um país novo, aquele que Ernâni propõe. Era bom que saísse do livro."
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