"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

17.10.05

Figuras históricas relevantes no concelho

São muitas as figuras históricas que merecem destaque nesta lista. No entanto, pela sua importante contribuição para o desenvolvimento social, económico, histórico e cultural do concelho através dos tempos, destaco as seguintes:
D. Afonso Henriques: não poderá deixar de ser a primeira figura histórica ligada a Trancoso já que a este nosso rei se deve a sua conquista aos árabes e no seu reinado se realizaram as importantes obras de reconstrução do castelo, bem como o reforço das muralhas que abrigavam a pequena povoação de então. Por vitória sobre os sarracenos, terá D. Afonso Henriques mandado construir o Mosteiro de São João de Tarouca.
D. Afonso II: é no seu reinado que se assinala a concessão do foral, em Outubro de 1217, confirmando aquele que D. Afonso Henriques lhe outorgara e de que se desconhece a data.
D. Dinis: este monarca será, sem sombra de dúvida, a figura régia a privilegiar no historial de Trancoso visto que lhe dedicou sempre especial carinho, escolhendo-a para local de seu casamento com a princesa D. Isabel de Aragão, aquela que viria a ser conhecida por Rainha Santa. Após esse extraordinário acontecimento, jamais o rei deixou de prestar a Trancoso a maior atenção, quer usando-a como centro da sua actividade política, quer preocupando-se com a sua defesa como posição chave na linha de fronteira com Castela. Em 15 de Abril de 1306, não só confirma a carta de feira dada por D. Afonso III, em 8 de Agosto de 1273, então com carácter anual mas também determina que passe a efectuar-se mensalmente e durante três dias, verificando-se, assim, a sua importância. E era tão forte a influência deste concelho junto de D. Dinis, que na contenda com Sabugal, por causa da duração dos seus certames, o monarca dá razão a Trancoso e por carta de 27 de Janeiro de 1314, são confirmados todos os privilégios da sua feira e a proibição de outra localidade realizar a sua enquanto enquanto durasse a de Trancoso.
Gonçalo Vasques Coutinho: alcaide-mor de Trancoso, figura destacada da vida portuguesa do século XIV, foi o grande vencedor da Batalha de São Marcos, ocorrida a 29 de Maio de 1385, a qual constituiu um sério aviso ao rei de Castela, D. João I, nas suas pretensões ao trono português e confirmado na Batalha de Aljubarrota, onde, de facto, se esfumaram os sonhos castelhanos.
Álvaro Gonçalves Coutinho (O Magriço): filho de Gonçalo Vasques Coutinho, nasceu na Vila de Trancoso, presumidamente nos meados ou terceiro quartel do século XIV. Este cavaleiro fez parte da famosa expedição a Inglaterra, tendo acompanhado outros 11 companheiros naquela que foi imortalizada saga dos Doze de Inglaterra, referida por Camões em “Os Lusíadas”.
D. João I: este monarca não pode ser esquecido já que, em 12 de Janeiro de 1391, por certo em reconhecimento da sua fidelidade na causa da Independência, confirma a Trancoso todos os foros, privilégios e liberdades, acto de grande importância histórica, inequivocamente.
Gil Vicente: O aparecimento, no seu «Auto da Mofia Medes» do nome de Trancoso é, também, motivo para ligar o fundador do Teatro Português a esta terra. A famosa personagem refere-se-lhe, de modo evidente: «Vou-se à feira de Trancoso».
Padre João de Lucena: notável jesuíta, que nasce em Trancoso em1549. Exerceu o mestrado em Évora e Roma e foi um dos maiores pregadores do seu tempo. Escreveu a «História da Vida do Padre Francisco de Xavier, e do que fizeram na Índia os mais religiosos da Companhia de Jesus», obra que foi traduzida em italiano, espanhol e latim, sendo considerada uma das mais clássicas da literatura portuguesa.
Gonçalo Anes Bandarra: este famoso sapateiro-profeta de Trancoso pode ser considerado uma das maiores figuras portuguesas de todos os tempos, quer por as suas «Trovas» serem universalmente conhecidas e investigadas, quer por ser um símbolo de uma época historicamente dramática para Portugal.
Gonçalo Fernandes Trancoso: é, sem sombra de dúvida, o primeiro grande contista português. Nasceu em Trancoso no século XVI e pertenceu à famosa escola de Boccacio. Os seus «Contos de Proveito e Exemplo» são uma obra marcante na literatura portuguesa e, talvez, aquela que mais edições teve.
Padre António de Almeida: outro grande missionário jesuíta nascido em Trancoso, ainda no século XVI, cuja acção foi verdadeiramente notável. As suas cartas sobre as coisas da China, para o Padre Duarte de Sande, foram publicadas em italiano e espanhol e são tidas como brilhantes peças sobre a vida do oriente.
Afonso de Lucena: nascido em Trancoso, licenciou-se em Direito Civil na Universidade de Coimbra e ainda vivia, segundo consta, em 1611. Foi Jurisconsulto de nomeada e secretário e procurador da Duquesa de Bragança, D. Catarina, cujos direitos ao trono defendeu, tenazmente, através de uma famosa alegação, dirigida ao rei-cardeal D.Henrique, em 1579.
Francisco de Lucena: filho de Afonso de Lucena e também natural de Trancoso, foi Secretário de Estado de D. João VI. Por razões políticas, em especial, por haver a suspeita que seu pai havia atraiçoado a Casa de Bragança, revelando segredos de D. Catarina e por ele próprio ter sido secretário de mercês, juntamente com Miguel de Vasconcelos, acabou por cair em desgraça, acusado de cumplicidade na conjura contra o monarca. Depois de um processo duvidoso, é condenado à morte e degolado, em 1643. Julga-se de maior interesse o estudo desta figura, hábil na política e, especialmente, na diplomacia, cujo prestígio terá sido uma das causas da sua morte violenta.
Constantino de Sampaio: monge de Cister notável, chegou a Arcebispo da Baía, no ano de 1675. Nascido em Trancoso, doutorou-se em Coimbra e, devido às suas capacidades, foi nomeado geral da Ordem, em 1669. Em 1676, quando se preparava para assumir as suas funções no Brasil, foi surpreendido pela morte, no Convento do Desterro.
Francisca da Conceição: freira e Madre do Convento de Santa Clara, existente em Trancoso, esta trancosense ilustre viveu nos séculos XVII e XVIII e morreu com cheiro de santidade, como é costume dizer-se. Deixou atrás de si uma aura tão grande que, em meados do século XVIII, se publica a obra «Vida e Milagres da Madre Francisca da Conceição», de autoria do Dr. Manuel Saraiva da Costa. A sua fama era tal, que o Marquês das Minas a visitaria em 1704, quando, com os seus exércitos, passou por Trancoso.
Simão Cardoso Pacheco: também este presbítero e mestre em História sagrada e profana, natural de Trancoso, viria a interessar-se pela figura da Madre Francisca da Conceição e sobre ela escreveria outra obra ainda mais famosa: «Vida e Milagres da Venerável Madre Francisca da Conceição, religiosa exemplaríssima no Mosteiro de Santa Clara da Vila de Trancoso
Francisco Saraiva de Sousa: presbítero secular, natural de Trancoso, que viveu na primeira metade do século XVII e se licenciou em Cânones na Universidade de Coimbra. Deixou uma importante obra de doutrina cristã, que foi publicada várias vezes.
Fernando Mendes: judeu, nascido nesta cidade, provavelmente nos princípios de 1645 e falecido em Londres, em 1724. Frequentou a Universidade de Montpellier (em França), onde se doutorou e ocupou uma cátedra. Foi viver para a capital inglesa, tendo desempenhado as funções de médico da Côrte e, em especial, de D. Catarina de Bragança, casada com o Carlos II. Autor de várias obras, entre elas, «Studium Apollinari», foi, ainda, o preparador da celebrada «Água de Inglaterra», remédio popular contra o sezonismo, contando com a colaboração de outro médico português, judeu com ele, Jacob de Castro Sarmento, residente na mesma cidade. Tornou-se numa das drogas mais receitadas do seu tempo e objecto depois, de muitas falsificações.
Agostinho de Mendonça Falcão: natural de Souto Maior, freguesia do concelho de Trancoso, nasceu a 27 de Agosto de 1783 e faleceu em 24 de Janeiro de 1854. Filho do Morgado de Souro Pires, Sebastião de Mendonça Falcão, formou-se em Cânones e dedicou-se à genealogia. Deixou impressas as obras «Árvore Genealógica da Família Real Portuguesa», «Bibliografia Abreviada da História de Portugal» e «Memória Histórica sobre a Vila de Seia», além de numerosos manuscritos. Serviu no exército português, durante a última invasão francesa, desempenhou as importantes funções de Superintendente Geral interino, junto do Marechal Beresford, comandante das tropas anglo-portuguesas.
Bartolomeu da Costa Macedo Giraldes Barba de Meneses: 2.º Visconde de Trancoso, nasceu em Trancoso em 1842 e morreu em Lisboa, em 1900. Moço-fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo, foi membro da Comissão Central do 1.º Dezembro de 1640, Director da Real Associação de Agricultura Portuguesa e abastado proprietário. Possuía, no país vizinho, os senhorios de Carabaña, Orusco e Valdilecha. Devido a questões várias, perdeu quase todos os seus bens, num processo que se arrastou, pelos tribunais, por mais de quarenta anos. Escreveu um opúsculo anti-ibérico, «Apontamentos da dominação castelhana em Portugal». Deixou um importante discurso, pronunciado em 1871, numa sessão comemorativa da Restauração de 1640. Casou em Lisboa, em primeiras núpcias, com D. Bárbara Camila Vicência José de Noronha, filha dos 10.ºs Condes dos Arcos e, depois, em segundas núpcias, com a Princesa Maria Cristina Isabel de Bourbon, Duquesa de Poze, no ano de 1876. Esta senhora era filha do Príncipe Inácio Vesceslaw, Conde de Gurouski, herdeiro do trono da Polónia e da Infanta D. Isabel, cunhada da Rainha D. Isabel II de Espanha. Pelo facto de este 2.º Visconde de Trancoso haver casado com uma Duquesa, o solar condal onde viviam, quando visitavam Trancoso, passou a ser conhecido por Palácio Ducal, o mais importante edifício do Centro Histórico.
Eduarda Lapa: Maria Eduarda Lapa de Sousa Caldeira nasceu em Trancoso em 1895. Estabeleceu em Coimbra os primeiros contactos com a pintura e foi lá que realizou a sua primeira exposição individual. Realizou outras exposições individuais no Porto, Açores, Madeira e no Rio de Janeiro, Brasil. Ficou reconhecida como a “pintora das flores”. Ganhou prémios nas modalidades plásticas do óleo e pastel e foi-lhe atribuída a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa (em 1944), na modalidade de pastel (1948) e de óleo (1954), 2 medalhas de Honra da Sociedade Nacional de Belas-Artes, entre muitas outras. Em 1950 foi agraciada como Oficial da Ordem de Santiago. Dedicou-se à pintura de paisagem, quer de Trancoso, quer da Guarda. Foi Eduarda Lapa um dos elementos que estiveram na base da fundação do Museu da Guarda onde, aliás, lhe foi prestada a devida homenagem em parceria com a Câmara Municipal de Trancoso. A sua obra está representada não só em várias câmaras municipais e em inúmeros museus do país, mas também no estrangeiro onde estão representadas várias colecções. Eduarda Lapa veio a falecer, na sua residência, em Lisboa, em 1976. De 24 de Junho a 24 de Agosto, de 1997, na galeria de exposições temporárias do museu da Guarda, esteve patente ao público uma exposição de parte da obra da genial pintora trancosense, sendo então apresentada uma publicação sobre a vida e a obra de Eduarda Lapa, editada pela Câmara Municipal de Trancoso.

Muitas outras personalidades podem figurar nesta lista. Sempre que encontrem outras de relevância não hesitem em colocar no blog.

(Estas informações são baseadas no Projecto-Lei da candidatura de Trancoso a cidade.)

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