"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

27.5.06

Interioridade: Vantagem ou desvantagem?


A propósito do post sobre a evolução da população de Trancoso, iniciou-se uma interessante discussão que venho retomar.
A questão que se coloca é se, nos próximos 20 anos, a "interioridade" é genericamente um factor de diferenciação positiva ou negativa!
Esta minha dúvida advém da constatação que os decisores nas médias organizações vivem cada vez mais a centenas de kilometros dos seus escritórios, convertendo as tradicionais reuniões em teleconferência ou em conferência telefónica.

Alguns dados que vale a pena revelar: O tráfego rodoviário de ligeiros nas autoestradas revela deslocações para os grandes centros entre as 18 horas de domingo e as 10 horas da manhã de segunda. Tráfego no sentido inverso entre as 18 horas de QUARTA FEIRA e as 24 horas de sexta feira. Sendo que entre quarta e quinta feira fazem o circuito inverso 50% dos automobilistas que na noite de domingo se deslocaram para os grandes centros urbanos.
O intercidades e a Rede Expresso revelam os mesmos dados...
Os empresários nacionais de grandes organizações trabalham habitualmente um a dois dias por semana apartir das suas residências. Tratando-se de empresários que têm conseguido encontrar novas oportunidades de negócio para este periodo de estagnação económica em Portugal, não creio que estejam a "dormir" nesses dias de ausência ás suas sedes profissionais.
A reflexão que estes dados nos merece é se não estamos perante uma nova tendência de êxodo urbano (seiscentas referências em lingua portuguesa) sendo as cidades do interior as beneficiárias desse êxodo.

Por outras palavras, se exemplos como o Burgo Medieval de Colleta Di Castel Bianco (na foto) não irão polvilhar o nosso território nacional.

5 comentários:

Sandman disse...

Só uma curiosidade: por acaso já deste uma vista de olhos a isto?

http://esplanar.blogspot.com/2006/05/setena-proferida-em-1487-no-processo.html

Frederico Lucas disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Frederico Lucas disse...

Já!
E segundo o especialista na matéria, essa sentença (bem como o acontecimento) nunca existiram...

Mas seria caricato se tivesse acontecido!

Um abraço

Anónimo disse...

Olá a todos!
Como é do conhecimento geral, nos grandes centros urbanos acontecem muitos problemas de ordem social que muitas vezes culminam em situações de violência com gangs organizados. A realidade é esta. Na Cova a Moura é assim, em Chelas é assim, nas Galinheiras é assim e posso continuar a enumerar bairros "simpáticos" nas redondezas de Lisboa. Além deste fenómeno aparecem a poluição, o trânsito, a falta de tempo, os preços de certos bens mais elevados e mais uma infinidade de aspectos menos bons que uma grande área urbana geralmente tem. No entanto há o reverso da medalha: ao morar numa zona deste tipo existe o acesso a todo o tipo de serviços, desde shoppings, passando por eventos de carácter cultural e desportivo (teatros, espectáculos musicais, futebol), e o mais importante de tudo: Oportunidades de emprego que no interior são mais escassas. É aqui que peca a interioridade. Apesar das vantagens de viver num centro urbano (algumas supra enumeradas)é inegável que existe uma melhor qualidade de vida nas cidades do interior. Se um indivíduo tiver possibilidades de fazer o seu trabalho através das novas tecnologias de comunicação porque razão terá de viver num local onde a qualidade de vida é inferior?! Ainda por cima se for natural do interior?! Os dados apresentados quanto ao fluxo de transportes rodoviário e ferroviário são reveladores da vontade das pessoas em viver no interior (se não gostassem tanto do interior não o visitariam tantas vezes. Pelo menos é esta a minha linha de raciocínio, apesar de haverem laços familiares que ligam essas pessoas às suas origens). Existe melhor qualidade de vida no interior! Isso é inegável e não me venham dizer o contrário. A questão essencial é a do emprego! O teletrabalho está em crescendo mas ainda é pouco utilizado, e além disso, grande parte dos trabalhos nunca poderão ser executados desta forma. Penso que é uma boa aposta (principalmente para os seus executantes), mas o problema da desertificação não se resolve só por aí, pelo menos a meu ver. É uma boa medida incentiva-lo... mas falta mais! As medidas que eu propus em posts anteriores (em "interessante discussão", sou o VS) podem parecer irrealistas, mas até têm algum sentido: se vão haver benefícios fiscais a nível de IRS para casais que tenham mais que um filho, porque razão não os poderão haver para quem decida abandonar uma área urbana e se decida radicar no interior? dá que pensar... E quanto às outras medidas de atracção de empresas mantenho o que disse (concordo com o Nuno quanto ao tipo de industria e serviços a fomentar, mas se os projectos e benefícios forem atractivos podem chamar a atenção a outro tipo de industrias e serviços), tirando proveito das rodovias e ferrovias existentes (existem uma A23 e um IP5 pertíssimo, bem como uma linha ferroviária internacional), e evitando a fuga de "cérebros" saídos dos politécnicos para os grandes centros urbanos em busca... de um emprego.
Pelo menos é esta a minha opinião e não custa nada expressar ideias para debate!
É um desafio que lanço a todos!
Parabéns Nuno pelo excelente trabalho desenvolvido!
Saudações!
VS

Frederico Lucas disse...

Caro VS,
Agradeço o seu comentário. Aliás, devo confessar que o esperava! :-)
O interior tem que criar condições para tornar possível o teletrabalho, seja através do conceito clássico de trabalho a partir de casa seja através de telecentros (escritórios partilhados para teletrabalhadores).
Por outro lado, o acesso às cidades tem que ser RÁPIDO CÓMODO E ECONÓMICO. Isso acontece hoje entre a beira interior e Viseu/Coimbra e Lisboa. Menos funcional na ligação a Aveiro, Porto, Bragança e Castelo Branco.
Por outro lado, o interior tem que saber cativar empresas para a sua região. E apoiá-las para tornar a sua permanência no interior mais interessante que nas grandes cidades.
No respeitante a eventos culturais, já não concordo consigo. Isto porque o interior tem bons acontecimentos culturais, na maioria gratuitos, e para os grandes eventos nas cidades existem bons transportes colectivos como já referi.
Concordará comigo que não faz sentido pagar 1000% mais por infantários, ou 600% mais pela habitação, para se pode assistir a um bom espectáculo na Gulbenkian, Pavilhão Atlântico ou no CCB, com a actual rede de transportes como o INTERCIDADES ou a A23.
Isto para concluir que estamos de acordo quanto à problemática do emprego: É aí que a região terá que se posicionar para tornar se atractiva, mesmo para empresas que operam exclusivamente nos grandes centros...

Um abraço e obrigado pelo seu comentário.