"Se pensas que és pequeno para fazer a diferença... tenta dormir num quarto fechado com um mosquito."
Provérbio africano, no editorial da revista "Recicla"

3.6.06

Roteiro para a Inclusao (da Beira Interior): Resultados


No passado dia 29 de Maio, e durante uma presidência aberta designada por Roteiro para a Inclusão, o Presidente da República fez saber que entendia como fundamental para o desenvolvimento a inclusão do interior do país no projecto nacional. Dito de outra forma, entende que a RECUPERAÇÃO ECONÓMICA DE PORTUGAL PASSA PELA DINAMIZAÇÃO DO INTERIOR.

«Penso que a partir de agora as câmaras vão ser chamadas muito mais do que no passado a estimular a criação de empregos e no domínio do desenvolvimento social e no estímulo à fixação de empresas»

E com isto, chamou à responsabilidade os presidentes de Câmara.
Mas, preocupado com a consequência que poderia advir das suas palavras, permitindo conclusões alargadas a muitos autarcas, esclareceu: «Depois da fase compreensível em que a prioridade ia para as infra-estruturas, penso que é chegado o tempo de atribuir elevada prioridade ao desenvolvimento social e dar sustentabilidade a esta prioridade»

O Blog Beira Medieval pôs mãos à obra e lançou o debate sobre esta temática. Pretendia-se auscultar os visitantes sobre as necessidades actuais para a criação de emprego na região, quer em relação aos actuais estudantes quer em relação àqueles que vivendo nas grandes cidades têm um carinho especial pela beira interior e que por isso são visitantes frequentes deste blogue.

Devo reconhecer que parte do 1º objectivo não foi cumprido. Os actuais estudantes não visitam o blogue, deixando à sorte o seu futuro, e por isso não se fizeram ouvir. Mas preocupa-me observar a enorme afluência destes aos espaços internet e imaginar a decepção profissional que irão viver quando chegarem às empresas da região e verificarem que as tecnologias de informação ainda não estão presentes nas unidades empresariais: A consequência é óbvia.

Sobre as soluções apontadas, resumem-se três eixos de intervenção:

a) Residências para a 3ª Idade. Face à tranquilidade da região, a Beira Interior tem condições naturais para acolher a 3ª idade. Os progressos da medicina trouxeram terceiras idade longas e isso fará disparar a necessidade dessas residências. Sobre este tema dever-se-á reconhecer que existe um longo trabalho da Misericórdia de Trancoso neste eixo, quer na àrea do investimento em infra-estruturas quer na àrea da formação em geriatria (assistentes de idosos). Ainda neste eixo foi proposta a criação de uma universidade para a terceira idade, elemento que poderia ser bastante diferenciador de outras residências. (estiveste bem, ninive!)

b) O segundo eixo de intervenção abordado foca-se no turismo em espaço rural. Este eixo é particularmente interessante porque o turismo na Beira Interior ainda está por explorar, vitima de uma focalização excessiva na neve durante as últimas decadas. Nesta àrea dever-se-á reconhecer o empenhamento dos autarcas da região na promoção das mais alargadas iniciativas de promoção turísticas. Julgo, mas trata-se de uma opinião pessoal, que os próximos anos vão trazer boas noticias para este sector.

c) O terceiro eixo prende-se com a IDADE DA INFORMAÇÃO. Depois da geração dos SERVIÇOS, considerado o 3º sector de actividade económica, chegou o sector quaternário COMUNICAÇÃO/INFORMAÇÃO. E, tal como ocorreu no passado, o ultimo sector de actividade acaba por alocar a maioria da população activa. Quando pensamos na redação de um orgão de comunicação social, num call center (que nascem como cogumelos e com os mais diferentes objectivos: Vendas; Cobranças; Assistência técnica etc.), produção dos mais diversos conteúdos comunicativos, estamos a pensar neste sector. E aqui nasce uma interessante oportunidade: Todos estes serviços trabalham remotamente num servidor, isto é, os operadores/colaboradores das instituições podem trabalhar em qualquer parte do planeta que as MILAGROSAS REDES DE DADOS permitem a actualização imediata no servidor das empresas. Ora, estando este planeta a viver uma FORTISSIMA CRISE DE COMBUSTIVEIS e existindo cada vez mais uma consciência social sobre QUALIDADE DE VIDA, a possibilidade de TELETRABALHO aparece como um destino incontornavel para a reorganização do trabalho. Esta modalidade tem 30 anos e não teve em muitas experiências bons resultados. Isto porque os teletrabalhadores têm que ser muito rigidos na auto disciplina e tal capacidade não é comum a muita gente. Como diz a Nathalie Monteiro, "em casa os motivos de distração são muitos".
A questão consequente é a seguinte: O insucesso do teletrabalho a partir da residência significa que todos temos que perder 2 a 4 horas diárias no trânsito citadino? Jack Nilles respondeu com os Telecentros! São escritórios nas zonas habitacionais onde a população se reune para teletrabalhar. CADA UM PARA A SUA EMPRESA! A diferença entre um centro de escritórios e um telecentro, é que no primeiro caso cada gabinete é uma empresa, no segundo cada pc é uma "filial" de uma organização!
O investimento para um telecentro ronda os 1000 euros por posto de trabalho e permite que a população trabalhe nos grandes centros urbanos apartir das zonas de maior qualidade de vida, isto é, do interior do país!

Mas para que tudo isto seja possivel, há um trabalho que só o governo pode fazer: A manutenção dos serviços públicos no interior. Seja o intercidades, os tribunais ou as maternidades. O interior tem que manter os serviços minímos para que a população possa disfrutar da qualidade de vida que só este pode oferecer.

Por outro lado, e porque esta qualidade de vida pode e deve ser partilhada, entendemos que o estado deveria ser o primeiro a descentralizar serviços pelo território nacional. E neste caso, a PT dá lições sobre descentralização: Inovação em Aveiro; Qualidade em Coimbra; Atendimento 118 em Cabo Verde, etc..

Termino este longo testamento com um forte agradecimento a TODOS os participantes na discussão.

Um forte abraço


Frederico

6 comentários:

Al Cardoso disse...

Caro Frederico:
O meu amigo esta a prestar um enorme servico a nossa regiao, faco votos que quem realmente tem o poder para decidir que o leia atentamente.
Ja o meu amigo sabe as minhas ideias basicas a cerca do assunto que sao coincidentes com as suas.
Mas continuo a vincar, que para que os concelhos do interior sejam atractivos, tem que continuar a ter as valencias que tem tido e, ate outras mais, mas aparentemente nao sera com este (des)governo.

Um abrco fornense e, bom fim de semana.

Frederico Lucas disse...

Muito obrigado Albino pelas suas palavras.
Julgo que em primeiro lugar temos que saber o que queremos, para quando exigirmos, EXIGIRMOS BEM!

Quem manda vai ler as minhas palavras porque sou eu que lhes vou entregar!

:-)

Anónimo disse...

Esta questão assim como outras relativas ao interior do país é UMA QUESTÂO POLITICA e a política não se faz nos blogues. Hoje foram a Lisboa centenas de agricultores e o resultado vai ser ZERO. talvez seja altura de todos os bloguistas (ou bloggers, como quiserem), ou pelo menos os que usam os blogues para este tipo de assuntos, participarem activamente nas suas zonas de residência, nomeadamente nas assembleias de freguesia ou municipais e etc.

Frederico Lucas disse...

Cara Maria,
Obrigado pelas suas palavras.
A internet, sob as mais diversas formas (blogues; Sites; Massive mails etc.) permite que a construção de redes de contactos de pessoas com identicas preocupações/motivações.
Isto significa, e tal como deverá ter visto no blogue Beira Medieval que na eventualidade de posteriores abordagens ao poder municipal, existem consensos prévios com um conjunto de pessoas.

Nada mais do que isto. Não deixam de existir outras formas de organização interpessoais...

Anónimo disse...

Quando as primeiras mensagens do Presidente da República reflectem o profundo desequilíbrio que caracteriza o desenvolvimento do Pais, percebemos que em termos de agenda política, a temática da “interioridade” não estará totalmente esquecida. Marginalizada provavelmente (afinal, o que representamos em número de votos para os governantes?), mas com a esperança de sair de um inexorável esvaziamento.


O debate, oportuno e pertinente, teve resultados interessantes. As conclusões assim o demonstram. As ideias saem do vulgar o que, no meu entender, é essencial para afirmar o futuro das regiões mais desfavorecidas.

A) a terceira idade como eixo de intervenção. Criação de uma universidade para a 3ª idade. Muito bom!

B) o turismo. Pouco discutido na verdade. Ainda assim, um sector crucial em que a iniciativa privada continua a apostar timidamente.

C) idade da informação. Enquanto eixo de intervenção, uma área em que o interior ainda não soube tirar vantagem competitiva. As oportunidades são imensas.

...

Fundamentalmente, quero felicitar o animador do debate pela iniciativa e eventualmente deixar o desafio:
Levar o debate para uma plataforma autónoma. Dedicar um espaço específico para discutir estas e outras ideias. Fazer com que a discussão cresça e que quem queira debater “interioridade” encontre um fórum adequado para o fazer. Acredito que possamos ganhar consistência nas ideias e porque não criar um lobby de ideias?!


Atento a futuros desenvolvimentos
Bem haja

João Carreira disse...

Parabéns pela bela fotografia de Loriga, coração da Serra da Estrela...e infelizmente cada vez mais despovoada.